Após reunir-se com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, na Casa Branca nesta sexta-feira, 7, Donald Trump afirmou que “há uma chance muito boa” de haver uma segunda edição de sua cúpula com o homólogo russo, Vladimir Putin, desta vez em Budapeste. O aceno ocorre após o presidente dos Estados Unidos cancelar as negociações para um novo encontro entre os dois líderes, acusando o Kremlin de manter uma postura intransigente demais em relação ao conflito na Ucrânia, e impor sanções ao petróleo russo.
“Sempre há uma chance, uma chance muito boa”, disse Trump a repórteres. “Eu gostaria de fazer (a reunião) na Hungria, em Budapeste. Aquele outro encontro eu não quis, porque achei que nada significativo iria ocorrer. Mas se formos ter, quero que seja em Budapeste”, ele acrescentou, para deleite do convidado.
“Aquele outro encontro” a que o americano se referiu surgiu de uma ligação telefônica que ele recebeu de Putin em meados de outubro, na véspera de uma visita do ucraniano Volodymyr Zelensky à Casa Branca, quando o russo o convenceu a não fornecer mísseis de cruzeiro Tomahawk a Kiev e ambos concordaram em realizar uma versão 2.0 do encontro que tiveram no Alasca no mês anterior. No entanto, conversas subsequentes entre os chefes da diplomacia de seus respectivos países, Marco Rubio e Serguei Lavrov, fracassaram porque o secretário de Estado americano entendeu que o Kremlin não abria mão de nenhum de suas exigências maximalistas para o fim da guerra. Daí Trump cancelou os planos.
Amizade e interesses
Orbán, 15 anos ininterruptos no cargo na Hungria, é um dos maiores aliados de Trump na Europa, e ambos nutrem admiração mútua devido ao populismo de direita que defendem e fazem articular mundo afora. Ele viajou a Washington, D.C., no intuito justamente de azeitar a cúpula que quer sediar em seu país, embora se contente com atrair uma visita do ocupante da Casa Branca com ou sem Putin.
O premiê húngaro enfrenta um desafio interno sem precedentes de um novo líder da oposição e o país terá eleições parlamentares em abril de 2026; seus assessores acreditam que uma visita de Trump antes do pleito reforçaria o papel de estadista de Orbán e energizaria sua base conservadora. A campanha do seu partido radical, o Fidesz, se baseia em parte na influência internacional do líder húngaro, o que ajuda a desviar a atenção das falhas na governança interna.
Criticado internamente na União Europeia pela manutenção de relações com Putin após a invasão à Ucrânia, Orbán tem cultivado laços com Trump desde seu primeiro mandato, enquanto encabeça a articulação de uma rede internacional de extrema direita da América do Sul à Europa. Ele adotou o uso de bonés com o slogan “Mega” (Make Europe Great Again), em aceno ao bordão trumpista. O presidente americano e seu círculo há muito elogiam o líder húngaro, descrevendo-a como um modelo a ser seguido, uma “Disneylândia conservadora”.
Postura dos EUA
Nas últimas semanas, Trump aumentou a pressão sobre o Kremlin ao impor contra as petrolíferas russas Lukoil e Rosneft, bem como punições econômicas contra aqueles, como a Índia, que compram petróleo do país — importante motor de sua economia de guerra. Seu desejo expresso é que, em especial, todas as nações europeias deixem de depender do complexo energético da Rússia.
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Nações como a Hungria e Eslováquia, que também continuam comprando combustível russo, ainda não foram afetadas. Gergely Gulyas, chefe de gabinete de Orbán, afirmou na semana passada que o objetivo da Hungria era “obter uma isenção das sanções americanas para que as compras de gás e petróleo bruto russos pudessem continuar de forma estável”.