As Forças de Apoio Rápido (RSF), grupo paramilitar que trava uma guerra civil contra o Exército do Sudão desde abril de 2023, anunciaram nesta quinta-feira, 6, que aceitaram uma proposta dos Estados Unidos e de países árabes para a implementação de um cessar-fogo humanitário no país. A medida, apoiada também por Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos, tem como objetivo permitir a entrada de ajuda em regiões assoladas por fome e violência, especialmente em Darfur, no oeste do país.
Em comunicado, as RSF afirmaram estar “dispostas a iniciar imediatamente discussões sobre os arranjos para o cessar-fogo e sobre os princípios fundamentais que orientarão o processo político no Sudão”. O Exército, por sua vez, ainda não respondeu oficialmente à proposta. Fontes próximas ao alto-comando militar relataram resistência à trégua, apesar da pressão internacional crescente.
O anúncio ocorre menos de duas semanas após a milícia sudanesa consolidar o controle da cidade de El-Fasher, capital do estado de Darfur do Norte, onde organizações humanitárias denunciam massacres e execuções sumárias. Segundo a ONU, cerca de 150 mil pessoas foram mortas desde o início do conflito, e mais de 12 milhões foram obrigadas a sair de casa por causa dos combates — a mais grave crise humanitária do mundo, na avaliação da organização internacional.
Negociações
Um porta-voz do Departamento de Estado americano disse que Washington continua negociando diretamente com as duas partes envolvidas. “Pedimos a ambos os lados que respondam aos esforços para concluir uma trégua humanitária, dada a urgência de reduzir a violência e encerrar o sofrimento do povo sudanês”, afirmou o órgão em nota.
Em setembro, os Estados Unidos e seus aliados regionais já haviam proposto uma trégua de três meses, que serviria como prelúdio para um cessar-fogo permanente, mas as negociações fracassaram após uma série de ofensivas no oeste e no centro do país.
A guerra no Sudão começou em abril de 2023, quando as duas forças, então aliadas em um governo de transição, entraram em confronto por causa de um plano de integração militar. Desde então, cidades inteiras foram destruídas, a fome se espalhou e grupos armados retomaram práticas étnicas de limpeza e perseguição, especialmente em Darfur, região marcada pelo genocídio dos anos 2000.