Três semanas após o escandaloso roubo de joias avaliadas em 88 milhões de euros (quase meio bilhão de reais), o Louvre enfrenta uma avalanche de críticas pelo que o público enxergou como negligência à segurança. Um relatório do Tribunal de Contas da França divulgado nesta quinta-feira 6, dá mais estofo às denúncias: elaborado antes do crime, o documento concluiu que por anos a direção do museu priorizou a aquisição de obras e a criação de novas exposições em detrimento da manutenção e da proteção do acervo.
A investigação, que analisou o período entre 2018 e 2024, revelou que o maior museu do mundo destinou 105,4 milhões de euros (mais de R$ 652,2 milhões) à aquisição de novas obras e outros 63,5 milhões de euros (cerca de R$ 393 milhões) à criação de espaços expositivos. Já os investimentos em manutenção e segurança somaram apenas 26,7 milhões de euros (R$ 165,2 milhões) — menos de um terço do valor reservado às compras de novas peças.
“O roubo das joias da coroa é um sinal de alerta”, declarou Pierre Moscovici, presidente do Tribunal de Contas, ao apresentar o relatório.
Críticas
As conclusões do texto se alinham às críticas feitas pela ministra da Cultura, Rachida Dati, que acusou a administração do Louvre de “subestimar gravemente” os riscos de invasão. O especialista em arte Didier Rykner reforçou o coro, dizendo que o museu, com seus “recursos abundantes”, preferiu priorizar iniciativas chamativas em vez de proteger adequadamente o acervo já existente.
Entre os projetos de renovação que podem ser impactados pela polêmica está o ambicioso Novo Renascimento, anunciado neste ano pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e pela diretora do Louvre, Laurence des Cars. O plano previa uma nova entrada no lado leste do edifício e a criação de um espaço exclusivo para a Mona Lisa. Segundo o Tribunal de Contas, o projeto foi iniciado “sem estudos técnicos ou financeiros adequados”, e o orçamento já saltou de 700 milhões para 1,15 bilhão de euros.
Em nota, a direção do Louvre afirmou aceitar a maioria das recomendações, mas defendeu que o relatório não refletiu todo o esforço recente em segurança. “No maior e mais visitado museu do mundo, um julgamento equilibrado precisa considerar o longo prazo”, declarou a administração.
Crime de cinema
O furto ocorreu em plena luz do dia, no dia de 19 de outubro, quando ladrões invadiram a Galeria Apolo, no primeiro andar do museu, por meio de uma plataforma elevatória acoplada a um caminhão. Usando uma ferramenta de corte industrial, o grupo arrombou vitrines e levou oito peças históricas que pertenceram a rainhas e imperatrizes do século XIX, entre elas o colar Marie-Louise e um par de brincos cravejado de esmeraldas.
Enquanto isso, a investigação policial avança a passos lentos. Um dos principais suspeitos, Abdoulaye N., de 39 anos — conhecido nas redes sociais como Doudou Cross Bitume por seus vídeos de manobras radicais de moto em pontos turísticos de Paris — foi preso ao lado de um cúmplice identificado como Ayed G. Ambos, segundo a imprensa francesa, seriam criminosos de pequeno porte contratados por um financiador ainda não identificado.
Outros dois suspeitos estão sob custódia, enquanto um quarto homem e as joias ainda não foram encontrados. Durante o interrogatório, Abdoulaye N. afirmou não saber que estava invadindo o Louvre. Ele disse que acreditava que o museu se limitava à área da famosa pirâmide de vidro. Seu parceiro, Ayed G., afirmou achar que o local estaria fechado por ser domingo. Mas estava aberto, e lotado de visitantes.