A Meta lucra bilhões com anúncios de golpes e produtos proibidos, mostram documentos da empresa dona do Facebook e Instagram do final do ano passado. A informação foi divulgada nesta quinta-feira, 6, pela agência de notícias Reuters, que obteve o levantamento interno da gigante de tecnologia. Ao todo, a Meta embolsou cerca de 10% de toda a sua receita anual, o que representa US$ 16 bilhões (mais de R$ 85 bilhões), com a veiculação de propagandas falsas e mercadorias não autorizadas.
Segundo a Reuters, a empresa falhou em identificar e impedir uma chuva de anúncios fraudulentos de esquemas de comércio eletrônico e investimentos, cassinos online ilegais e venda de produtos médicos proibidos. A falha ocorre há no mínimo três anos e expôs bilhões de usuários do Facebook, Instagram e WhatsApp a golpes, de acordo com o veículo. Um documento de 2024 apontou que a Meta exibe, em média, cerca de 15 bilhões de anúncios de “alto risco”, como são definidos aqueles com claros indícios de fraude, diariamente.
Grande parte deles agia de forma “suspeita o suficiente” para serem sinalizados pelos sistemas de alerta da Meta, afirmou a Reuters. A big tech, contudo, só bane anunciantes se as ferramentas automatizadas apontarem que estão 95% certas de que são fraudulentos. Se a empresa acreditar que há um golpe, mas não tiver certeza, passa a cobrar taxas de anúncios mais altas como penalidade, em uma tentativa de tentar dissuadir os criminosos digitais, revelam documentos das divisões de finanças, lobby, engenharia e segurança da empresa.
No entanto, pessoas que clicam nesses anúncios falsos provavelmente verão mais deles em razão do algoritmo da Meta, que exibe propagandas com base no interesse dos usuários. Em comunicado, o porta-voz da Meta, Andy Stone, afirmou que os documentos vistos pela Reuters “presentam uma visão seletiva que distorce a abordagem da Meta em relação a fraudes e golpes”.
Ele também alegou que a estimativa de que a big tech receberia 10,1% da receita com fraudes era “aproximada e excessivamente abrangente” e que números levantados mais tarde indicavam um lucro menor, já que a estimativa original havia incluído “muitos” anúncios legítimos. Stone, contudo, se recusou a oferecer os números atualizados.
“A avaliação foi feita para validar nossos investimentos planejados em integridade – incluindo o combate a fraudes e golpes – o que fizemos”, afirmou o porta-voz, acrescentando: “Combatemos fraudes e golpes de forma agressiva porque as pessoas em nossas plataformas não querem esse tipo de conteúdo, os anunciantes legítimos não o querem e nós também não.”
“Nos últimos 18 meses, reduzimos em 58% as denúncias de anúncios fraudulentos em todo o mundo e, até agora em 2025, removemos mais de 134 milhões de anúncios fraudulentos”, concluiu.
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Sob pressão
Um dos documentos revelam que a Meta prometeu “reduzir os golpes publicitários em 2025″, mas outros relatórios mostram que seus produtos falsos se tornaram um pilar da economia global de fraudes. Uma apresentação de maio de 2025 estimou que as plataformas da empresa estavam envolvidas em um terço de todos os golpes bem-sucedidos nos Estados Unidos. Em outros registros, reconheceu que concorrentes tinham sistemas mais eficientes para combater os crimes nas suas plataformas.
“É mais fácil anunciar golpes em plataformas Meta do que no Google”, concluiu uma análise interna da Meta de abril deste ano.
O conglomerado de tecnologia também afirmou que tinha como objetivo reduzir a receita ilícita no futuro, embora estivesse preocupado com a possibilidade da perda dessa fonte de lucro afetasse suas projeções de negócios, de acordo com um dossiê de 2025 sobre o impacto da “receita de violação”, como é chamada a renda proveniente de anúncios que violam os padrões da Meta.
A gigante, por sua vez, reconheceu a importância de multas regulatórias e propôs penalidades de até US$ 1 bilhão. Mas essas multas seriam muito menores do que a receita da Meta com fraudes: a cada seis meses, fatura US$ 3,5 bilhões só em anúncios que “apresentam maior risco legal”, um valor que excede “o custo de qualquer acordo regulatório envolvendo anúncios fraudulentos”, segundo os documentos.
As revelações ocorrem em um momento em que a Meta é pressionada a proteger os usuários de maneira mais eficiente. Nos EUA, a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) investiga a empresa por veicular anúncios de golpes financeiros, ao passo que um órgão regulador do Reino Unido constatou no ano passado que os produtos da big tech estiveram envolvidos em 54% de todas as perdas com esquemas de pagamentos em 2023, mais que o dobro das outras de redes sociais juntas.