Às vésperas da inauguração da primeira loja física de sua história, em Paris, a varejista chinesa de fast fashion Shein caiu em maus lençóis, após autoridades francesas denunciarem que o e-commerce vende bonecas sexuais com aparência infantil. Nesta quarta-feira, 5, o governo da França anunciou medidas para suspender o acesso ao site da loja até que haja a comprovação de que seu conteúdo está de acordo com as leis locais.
“Por instruções do primeiro-ministro, o governo iniciou o procedimento para suspender a Shein pelo tempo necessário para que a plataforma demonstre às autoridades públicas que todo o seu conteúdo está em conformidade com nossas leis e regulamentos”, declarou o gabinete do premiê Sébastien Lecornu, horas antes da abertura da inédita unidade física em Paris.
Entenda o caso
O escândalo veio a público na última sexta-feira 31, quando a Direção Geral de Proteção ao Consumidor da França disse ter descoberto as bonecas na plataforma da Shein, apontando que suas descrições e características não deixavam qualquer dúvida quanto à natureza de abuso sexual infantil do produto. Em seguida, a Procuradoria de Paris abriu investigações contra a empresa e os franceses, profissionais da indignação, foram às redes para expressar sua fúria em relação ao caso.
“A luta contra a exploração infantil é inegociável para a Shein. Estamos falando de anúncios de vendedores terceirizados no marketplace, mas eu levo isso para o lado pessoal”, justificou o presidente executivo da empresa, Donald Tang. Embora os produtos não fossem comercializados diretamente pela varejista, a Lei Europeia de Serviços Digitais (DSA) exige que a empresa adote um rigoroso sistema de vigilância sobre produtos ilegais.
Em resposta, a Shein anunciou a suspensão temporária da comercialização de produtos por vendedores terceirizados na França. A empresa também proibiu a venda de qualquer tipo de boneca sexual em seu site e removeu sua categoria de produtos 18+. Segundo a agência de notícias Reuters, a varejista tenta realizar consultas urgentes com autoridades francesas para reverter a suspensão.
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Inauguração
A revelação afetou diretamente a inauguração da primeira unidade física da Shein na história. Aos olhos de um forte esquema de segurança policial, diversos ativistas pelos direitos das crianças protestaram nos arredores da famosa loja de departamentos BHV Marais, no centro de Paris, onde instalou-se a gigante do e-commerce. Nesta tarde, era possível ver cartazes com os dizeres “protejam as crianças, não a Shein”.
Em entrevista à TV francesa, o proprietário da BHV, Frédric Merlin, disse ter pensado em romper o contrato de aluguel do espaço devido ao escândalo, mas a “decisão firme” de proibir todas as bonecas sexuais na plataforma fez com que ele mudasse de ideia. “Os produtos aqui são etiquetados como Shein e são produzidos pela Shein, em fábricas da Shein”, declarou Merlin, na tentativa de garantir ao público que nenhuma mercadoria de vendedores terceirizados terá espaço por lá.
Apesar de toda a polêmica, a inauguração da primeira loja física da varejista teve relativo sucesso, com centenas de compradores formando fila no lado de fora da BHV, esperando sua vez de entrar.