O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), afirmou que o problema da violência no Rio de Janeiro não é mais local, mas alimentada por uma política equivocada de contenção policial imposta pela ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas.
“Aquela decisão judicial transformou uma parte do Rio de Janeiro em uma área de conforto para o crime, uma área livre para as facções. Dali, os chefes do Comando Vermelho se instalaram e começaram a comandar ações em todo o país”, declarou Caiado em entrevista ao programa Ponto de Vista, da jornalista Marcela Rahal.
A ADPF 635, apresentada pelo PSB e acolhida pelo Supremo em 2020, determinou que operações policiais em comunidades do Rio fossem realizadas apenas em casos “excepcionais”, com autorização prévia do Ministério Público e relatórios detalhados sobre mortes e danos colaterais. A medida, que pretendia conter abusos policiais, é hoje alvo de críticas crescentes entre autoridades da segurança pública.
“Essa decisão judicial, que pretendia proteger vidas, acabou protegendo o crime. Limitou a ação da polícia e permitiu que os criminosos se armassem, se organizassem e dominassem territórios inteiros”, disse Caiado.
O contraponto da direita
A fala do governador ocorre no contexto da formação do Consórcio da Paz, grupo de sete governadores de direita que tenta construir uma frente comum de segurança pública. Segundo Caiado, o movimento não é ideológico, mas uma resposta direta à demanda popular por segurança.
“Sessenta por cento da população quer viver em paz. O cidadão não quer mais ser tutelado por facções que impõem regras, cobram taxas e torturam moradores. O que nós estamos dizendo é: o Brasil precisa voltar a ser governado pela lei”, afirmou.
Caiado também elogiou a megaoperação no Complexo do Alemão e da Penha, conduzida pela polícia do Rio após anos de restrições impostas pela ADPF.
“As imagens mostraram claramente o poder de fogo das facções, formadas por criminosos com treinamento de guerrilha. A polícia do Rio merece aplausos — agiu fora das áreas civis, com eficiência e coragem”, declarou.
Um embate que vai além da segurança
O embate entre governadores conservadores e o Supremo Tribunal Federal promete se tornar um dos principais temas da corrida presidencial de 2026. Enquanto o governo Lula prega uma “política de segurança cidadã”, que prioriza o controle da letalidade policial, a direita se reorganiza em torno da ideia de “libertar as forças policiais das amarras judiciais”.
Caiado — que figura entre os nomes cotados para disputar a Presidência — usa Goiás como vitrine de uma política de “tolerância zero” que, segundo ele, transformou o estado “no mais seguro do país”.
“Aqui o cidadão anda de celular na rua, mora na fazenda, trabalha e vive em paz. É isso que o Brasil quer. Nós respeitamos a lei, mas não podemos aceitar que decisões judiciais retirem o Estado das ruas e entreguem o território ao crime”, concluiu.