A partir da recuperação gradativa de sua popularidade, Lula abraçou de vez o discurso de candidato à reeleição, a postura de palanque e o seu tradicional receituário populista em busca de voto. Em viagem à Indonésia, ele admitiu em público, pela primeira vez, que disputará um novo mandato em 2026.
Dias depois, na Malásia, o presidente colheu uma imagem poderosa para a sua ofensiva eleitoral: a foto dele com Donald Trump, que até o anúncio do tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil, em julho, era considerado pelos oposicionistas o principal aliado de Jair Bolsonaro para desestabilizar o governo petista e pressionar o Judiciário a absolver o ex-presidente da acusação de tentativa de golpe.
No campo diplomático, a fotografia de Lula e Trump não só confirmou a “química” inicial entre eles como formalizou a abertura de um diálogo entre os dois países, que pode render frutos a depender das negociações. Na seara da imagem, no entanto, o petista já teve o que comemorar.
Um monitoramento realizado pela Quaest mostrou que o registro do aperto de mãos dos presidentes bateu recorde nas redes sociais de Lula, com 72 milhões de visualizações, 22 milhões de curtidas e 7,5 milhões de compartilhamentos. Na prática, a imagem encorpou uma série de notícias favoráveis ao presidente, que cresceu nas pesquisas de intenção de voto e surfava uma agenda positiva.
Mas, como ensina a sabedoria popular, nada como um dia após o outro. Quando Lula ainda retornava ao Brasil do giro asiático, a polícia do Rio de Janeiro realizou uma operação contra o Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha, que resultou na morte de pelo menos 121 pessoas.
A ação — considerada a mais letal já realizada por forças policiais no Brasil — rendeu imagens de dezenas de mortos enfileirados e devolveu para o centro do debate político a crise na segurança pública, tema que é explorado eleitoralmente pela direita — e que Lula, o governo e a esquerda até hoje não sabem como tratar.
O potencial de desgaste para o presidente é considerável, já que a criminalidade está no topo das preocupações do eleitor. Pré-candidatos oposicionistas já saíram a campo para tentar ganhar dividendos com o assunto. Já Lula adotou a cautela enquanto tenta definir uma estratégia de reação mais clara.
Num prazo de menos de uma semana, o presidente passou da euforia provocada pelo encontro com Trump para a preocupação decorrente da falência da segurança pública. Por conta da criminalidade, principal motivo de preocupação dos brasileiros, o eterno candidato à Presidência foi obrigado a descer um pouco do salto alto.