A direita brasileira encontrou, enfim, uma pauta unificadora para tentar reorganizar suas forças em torno das eleições de 2026: a segurança pública. A avaliação é do colunista de VEJA José Benedito da Silva, que participou do programa Os Três Poderes, apresentado por Marcela Rahal, ao comentar o surgimento do chamado Consórcio da Paz, grupo que reúne governadores conservadores em torno do tema.
“A eleição de 2026 começou. E a direita, que estava sem rumo, presa às pautas de anistia e de defesa do bolsonarismo, agora tem um assunto forte, que dialoga com o eleitor: a segurança pública”, disse Benedito. “É um tema caro à direita e, mais do que isso, é hoje uma preocupação real dos brasileiros.”
Tema que sobe nas pesquisas
Os dados confirmam a percepção. Segundo a última pesquisa Quaest, 30% dos eleitores afirmam que a segurança é a principal preocupação do país — há um ano, esse número era de apenas 17%. Outro levantamento, do Datafolha, mostra que 19% da população vive em áreas dominadas por facções criminosas ou milícias, número que também vem crescendo.
“Esses dados explicam por que a segurança pública vai ser central em 2026. É o tema que mais aflige o eleitor hoje”, observou o colunista.
Governadores articulam bloco eleitoral
O movimento recente de governadores como Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO), que se reuniram após a megaoperação policial no Rio de Janeiro, marca o início de uma coordenação mais visível entre lideranças de direita.
“Naquela reunião havia pelo menos três pré-candidatos à Presidência. Todos têm bons indicadores de segurança pública em seus estados e agora veem no tema uma alavanca eleitoral”, avaliou Benedito.
O colunista lembrou que, politicamente, o tema favorece o campo conservador, tradicionalmente mais associado a discursos de ordem e repressão ao crime. Mas advertiu que o debate deve ser tratado com responsabilidade técnica e não apenas retórica.
O risco da demagogia
Para José Benedito, o desafio será manter o debate em nível elevado, evitando que a segurança vire apenas combustível para slogans eleitorais.
“É legítimo discutir o tema e apresentar visões diferentes sobre como enfrentá-lo. O problema é quando se transforma isso em discurso fácil, em promessa vazia. O eleitor quer soluções reais, não populismo”, afirmou.
Ele destacou que a politização da segurança pode dificultar a busca por políticas públicas de longo prazo, especialmente num país em que a violência já se tornou um problema estrutural.
“O Brasil precisa encarar o tema com seriedade, complexidade e profundidade. E o ambiente eleitoral nem sempre é o melhor para isso, porque estimula a disputa ideológica e o proselitismo”, concluiu.
De bandeira eleitoral a urgência nacional
O avanço do Consórcio da Paz indica que o tema da segurança pública será o eixo principal da campanha da direita nos próximos dois anos — um contraponto à agenda social e econômica do governo Lula. Mas, como alertou José Benedito da Silva, transformar um problema crônico em trampolim político pode custar caro se não vier acompanhado de propostas concretas.
“Debater segurança é essencial. Mas é preciso fazer isso sem demagogia, com base em dados, políticas consistentes e responsabilidade — porque, desta vez, o eleitor está prestando atenção.”