Israel lançou ataques nesta quinta-feira, 30, na Faixa de Gaza, após o Exército israelense afirmar na véspera que havia retomado o frágil cessar-fogo. Moradores e testemunhas relataram 10 bombardeios em áreas a leste de Khan Younis, no sul do território, ao mesmo tempo em que tanques explodiram pontos ao leste da Cidade de Gaza, no norte. Na terça-feira, uma operação aérea matou 104 pessoas, incluindo 20 crianças, no enclave palestino, em meio à troca de acusações entre Israel e Hamas sobre violações do acordo.
As Forças Armadas de Israel disseram que ataques “precisos” foram realizados contra “infraestrutura terrorista que representava uma ameaça às tropas” nas regiões ainda ocupadas por suas tropas. Antes dos bombardeios de terça, Tel Aviv alegou que um soldado foi morto em um ataque prévio por homens armados na “linha amarela”, onde estão alocados os militares israelenses desde o início a trégua, uma acusação rejeitada pelo Hamas.
Ao menos 26 radicais foram mortos na ofensiva aérea nesta terça, incluindo um comandante do grupo palestino que teria participado dos ataques de 7 de outubro de 2023, de acordo com uma lista de Israel. Em resposta, o gabinete de imprensa do governo de Gaza, controlado pelo Hamas, afirmou que o documento compunha uma “campanha sistemática de desinformação” para encobrir “crimes contra civis em Gaza”. Em meio à escalada das tensões, mediadores dos Estados Unidos e de países da região tiveram de intervir para controlar os ânimos, informou a agência de notícias Reuters.
O presidente dos EUA, Donald Trump, principal fiador do acordo, afirmou que o cessar-fogo apoiado não está em risco, mesmo com os ataques e acusações mútuas de desrespeito dos termos. “Pelo que entendi, eles (Hamas) mataram um soldado israelense”, disse o líder americano a repórteres a bordo do Air Force One na quarta-feira, 29, sugerindo ainda que o militar foi abatido por um franco-atirador. “Então os israelenses revidaram e devem revidar. Quando isso acontece, eles devem revidar”, acrescentou.
Quando questionado se a trégua estava ameaçada, ele respondeu que “nada vai colocá-la em risco”. “Vocês precisam entender que o Hamas é uma parte muito pequena da paz no Oriente Médio, e eles precisam se comportar.”
“Se eles (o Hamas) forem bons, ficarão felizes, e se não forem bons, serão eliminados, suas vidas serão ceifadas”, completou.
+ Israel diz ter retomado cessar-fogo em Gaza após ataques que mataram 104 palestinos
A questão dos reféns
Um dos principais termos da trégua, o Hamas libertou todos os vinte reféns israelenses ainda com vida em troca de quase 2 mil palestinos detidos em prisões de Israel, ao passo que as forças de Tel Aviv recuaram dentro de Gaza e interromperam sua ofensiva.
O grupo também concordou em entregar os restos mortais de todos os reféns mortos em cativeiro, mas afirmou que levará tempo para localizar e recuperar todos os corpos. Israel acusa o Hamas de atrasar a devolução dos reféns mortos propositalmente, e a questão se tornou um dos principais pontos de atrito no cessar-fogo.
Na noite de segunda-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, informou que os restos mortais entregues mais recentemente pelo grupo pertenciam a um indivíduo cujo corpo havia sido recuperado pelo Exército de Israel nas primeiras semanas da guerra. Ele acusou o Hamas de ter plantado os restos mortais do israelense em questão em um local de escavação, onde autoridades palestinas buscam pelos reféns enterrados sob escombros sob a supervisão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), e fingido ter encontrado um corpo desaparecido.
Os militares de Israel divulgaram um vídeo de 14 minutos mostrando três homens colocando um saco branco no sítio arqueológico e, em seguida, cobrindo-o com terra e pedras. Não é possível, porém, verificar a data do clipe. O CICV disse que sua equipe desconhecia o caso, mas declarou ser “inaceitável” que uma falsa recuperação tenha sido encenada.