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Crime organizado avança na desorganização dos governos

Estavam separados por 2.500 quilômetros de distância. Um no Rio culpava o outro em Fortaleza pela inépcia dos respectivos governos, enquanto avançava a contagem de mortos e feridos numa cidade convulsionada, hipnotizada pelas colunas de fumaça das bombas lançadas por drones do narcotráfico contra forças policiais.

Claudio Castro, governador do Rio, reclamava da “solidão” a que estaria relegado pelo governo federal que lhe nega ajuda na guerra às máfias locais — especialmente o Comando Vermelho.

Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça, festejava o título de Cidadão de Fortaleza, realçou ineficácia das ações do governo do Estado do Rio: “Eu queria enfatizar que o combate à criminalidade, seja ela comum, seja ela organizada, se faz com planejamento, com inteligência, com coordenação das forças. Enfim, não posso julgar porque não estou sentado na cadeira do governador…”

Então, produziu uma pérola retórica: “Acontece que o crime organizado, como diz o próprio nome, é organizado.” Arrematou com oferta de esperança aos eventuais aflitos: “Eu tenho certeza, o estado brasileiro, seja ele o estado gênero ou os estados membros da federação, também haverá de se organizar e venceremos esse flagelo que não é só nacional, mas é global.”

O ministro Lewandowski e o governador Castro devem se encontrar hoje no Rio. A cidade dormiu ontem na contagem de 64 corpos, entre eles, quatro policiais. A quantidade pode aumentar com as buscas na Mata da Misericórdia, beirada das favelas da Penha e do Alemão.

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O número de mortes contabilizado já é cinco vezes maior que o da primeira matança nas vielas do Alemão, em 1994. Se passaram três décadas, com dezena e meia de banhos de sangue, e o crime organizado avança no controle territorial em praticamente todos o país.

Mais de 30 milhões de pessoas, estima-se, vivem em áreas controladas por máfias originárias do narcotráfico ou do banditismo policial.

O Estado brasileiro segue desorganizado por peculiaridades políticas. Uma delas é a conveniência de se manter no século XXI as bases do pacto da República Velha, no qual a segurança pública é atribuição dos governos estaduais e a defesa nacional é do governo federal.

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Era vantajoso para governadores, cujo efetivo policial somado ultrapassa as tropas da União. E, também, para o presidente da República, que não ficava com o ônus político do aumento da criminalidade e da violência nas cidades.

Lula, por exemplo, está no terceiro governo (o PT no quinto, contando-se dois mandatos de Dilma Rousseff), e até hoje não se conhece a proposta dele ou de seu partido para mudar a política de segurança pública.

Governo e PT propagam a ideia de que as bases da transformação estão na proposta de emenda constitucional sobre segurança pública. Lewandowski, um dos autores do projeto, define como “solução sistemática, holística, estruturante”.

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Governadores como Claudio Castro, que é do Partido Liberal de Jair Bolsonaro, discordam. Criticam a iniciativa por achar que o objetivo é esvaziar o poder dos Estados em privilégio do governo federal.

O resultado das décadas de impasse político, ainda sem perspectiva de resolução, é a falta de prioridades e objetivos do Estado brasileiro. Crime organizado avança em meio à desorganização política. E a insegurança pública cresce nas pesquisas como fator decisivo do voto na eleição de 2026.

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