Pesquisadores do Instituto Butantan, em São Paulo, empreenderam uma investigação para saber de onde veio a linhagem do vírus da dengue que causou epidemia da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti entre 2023 e 2024. O grupo analisou 1.536 genomas do tipo 3 da dengue e identificou ao menos seis rotas de países da América Central, como Cuba, Porto Rico e Costa Rica, que conduziram o sorotipo para o Brasil.
Ao receber sequências do sorotipo 3 da dengue que estava em circulação nos estados do Pará e Minas Gerais ainda no ano de 2023, o grupo de pesquisadores iniciou uma análise da linhagem e da circulação do vírus por países e territórios. Os achados foram publicados na revista Virus Evolution, da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Ao destrinchar as amostras e acompanhar a reintrodução do vírus no país, os estudiosos constataram que as linhagens que atingiram o Pará, Roraima e São Paulo vieram de Cuba. Minas Gerais e São Paulo foram impactadas pelo sorotipo proveniente de Porto Rico e da Costa Rica.
“Em 2024, explodiu o número de casos de dengue 3 no país, que acreditávamos estarem relacionados com a entrada de uma linhagem nova porque na literatura da dengue é sabido que a troca de linhagens coincide com surtos”, disse, em nota, Alex Ranieri, bioinformata do Centro de Vigilância Viral e Avaliação Sorológica (CeVIVAS) e do Laboratório de Ciclo Celular do Butantan (LCC).
A epidemia de dengue no ano passado, que resultou em mais de 6,5 milhões de casos e 6.321 mortes, teve entre as causas o retorno da circulação do sorotipo 3, fazendo com que pessoas que ainda não tinham contraído essa linhagem fossem infectadas. As mudanças climáticas, que aceleram a proliferação do mosquito a partir da elevação das temperaturas, também estão entre os motivos apontados por especialistas e pelo Ministério da Saúde.
“Resolvemos investigar para entender a origem desse aparecimento, levando em conta que já havia uma literatura que indicava uma possível circulação do DENV-3 no Brasil, mas queríamos ver se era possível traçar uma rota de circulação, o que é muito importante para a vigilância genômica”, disse Ranieri. A dengue tem quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4.
O estudo destacou a importância da vigilância ativa para a verificação dos vírus em circulação, uma ferramenta essencial para evitar surtos e, consequentemente, quadros graves de doenças e mortes.
“O trabalho ressaltou que as rotas aéreas entre o Brasil e os países do Caribe ajudaram na dispersão do vírus, e que linhagens que vêm de outros locais, mesmo sem contato direto, podem causar surtos. Os esforços contínuos de vigilância serão, portanto, cruciais para identificar linhagens emergentes e orientar respostas oportunas para prevenir futuras epidemias de dengue no Brasil”, concluiu Ranieri.