Nesta semana, o futebol da Turquia se viu envolvido numa das maiores crises de sua história pelo suposto envolvimento de centenas de árbitros com apostas esportivas. A denúncia foi feita pela Federação de Futebol da Turquia (TFF), e o presidente da entidade, Ibrahim Haciosmanoglu, comunicou que vai abrir ação disciplinar contra vários árbitros que tinham contas em bets e que fizeram apostas recentemente.
A investigação, que contou com ajuda de autoridades do Estado, descobriu que 371 dos 571 árbitros em atividade na liga profissional do país tinham contas em casas de apostas, com 152 deles fazendo apostas regularmente. Entre os envolvidos, foram identificados sete árbitros de elite, 15 assistentes de elite, 36 árbitros classificados e 94 assistentes classificados.
A Federação Turca descobriu que um dos árbitros chegou a fazer 18.227 apostas, enquanto 42 árbitros apostaram em mais de mil partidas de futebol cada. Alguns deles, no entanto, tiveram apenas uma aposta registrada.
Pelo artigo 57 do código disciplinar da Federação Turca, árbitros considerados culpados de apostar em partidas de futebol podem ser suspensos de atividades relacionadas ao esporte por períodos entre três meses e um ano.
Existe regulamentação no Brasil?
No Brasil, o combate à manipulação tem sido constante. Recentemente, o país formalizou um pedido para fazer parte do acordo da Convenção de Macolin, em Paris, na França. O tratado é o único do esporte mundial de combate, prevenção e punição à manipulação de resultados no esporte. Apenas 50 países fazem parte deste movimento, que passou a vigorar a partir de 2019. Foi ratificada por França, Grécia, Islândia, Itália, Lituânia, Noruega, Portugal, República da Moldávia, Suíça e Ucrânia, e assinada por outros 32 Estados europeus, bem como pela Austrália e Marrocos.
A Convenção de Macolin possibilita que autoridades públicas cooperem com organizações esportivas, operadores de apostas e organizadores de competições para prevenir, detectar e sancionar a manipulação de competições esportivas. E ainda propõe uma estrutura legal comum para uma cooperação internacional para responder a essa ameaça global. De acordo com relatório da Sportradar, principal empresa de monitoramento que atende entidades como Fifa, Uefa e CBF, os alertas de movimentos suspeitos envolvendo manipulação de resultados caiu praticamente pela metade, chegando a 57 casos em 2024, antes 110 em 2023, e 139 em 2022.
“Esses movimentos colocam o Brasil como um dos países que mais tem avançado neste sentido com práticas que inibem de forma quase que automática a ilegalidade. Até mesmo antes da regulamentação, que no país aconteceu em janeiro deste ano, as bets, federações e confederações vêm firmando parcerias sólidas com diferentes orgãos internacionais e de integridade esportiva, deixando evidente a pretensão das empresas sérias e comprometidas com o mercado de combater de forma assertiva a manipulação de resultados”, explica Bernardo Cavalcanti Freire, consultor jurídico da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) e sócio da empresa Betlaw, escritório especializado no mercado de bets.