A nova rodada de movimentações do presidente Donald Trump no tabuleiro global voltou a mexer com os mercados e os bastidores da diplomacia internacional. O republicano se prepara para um possível encontro com o presidente chinês Xi Jinping — e, segundo o analista financeiro Josias Bento, o Brasil deve estar na próxima linha da estratégia americana.
“O Trump é um exímio negociador. Todas essas tarifas que ele criou, esse alvoroço todo, fazem parte de um cálculo. Ele usa as tarifas como cortina de fumaça para conquistar o que realmente quer: acesso a recursos estratégicos e fortalecimento do mercado interno americano”, afirmou Bento, sócio da GT Capital, em entrevista ao programa Mercado, apresentado por Veruska Donato, da VEJA.
Japão, China — e o próximo alvo
Na visita ao Japão, Trump fechou acordos que preveem investimentos de 550 bilhões de dólares em território americano, além de cooperação em minerais críticos, semicondutores e construção naval. O movimento, destacou o analista, não é apenas econômico — é geopolítico.
“Ele foi a Tóquio e fez um grande negócio em relação aos minerais estratégicos, que são essenciais para a indústria de tecnologia. Agora vai à China para pressionar Pequim a retomar a compra de soja americana e negociar de uma posição de força. Depois, vai querer o mesmo do Brasil”, disse Bento.
Segundo o especialista, as terras raras brasileiras — usadas em setores como energia limpa, eletrônicos e defesa — devem entrar no radar de Washington. “O Brasil tem um papel importante nesse jogo. Assim como fez com Japão e China, Trump vai buscar acordos que garantam suprimento para a economia americana.”
A tarifa como cortina de fumaça
Para Josias Bento, as sobretaxas impostas por Trump não são o fim, mas o meio. “A tarifa é uma cortina de fumaça. Ela chama atenção, mexe com o mercado, mas serve para abrir espaço de negociação. Ele finge endurecer para depois conseguir o que quer”, explicou.
Essa estratégia, acrescenta o analista, tem funcionado internamente. “Trump olha primeiro para a política doméstica, não para a externa. Ele conseguiu enfraquecer o dólar — algo que queria há muito tempo — e ganhou poder de barganha com países estratégicos. No fim, o que vale é o resultado político interno.”
Efeitos no mercado global
As falas de Trump, somadas à expectativa de sua reunião com Xi Jinping, aumentaram a volatilidade nas bolsas globais. O mercado de commodities, especialmente o de metais e grãos, reagiu com oscilações.
“Toda vez que Trump fala, o mercado sente. Mas ele sabe exatamente o que está fazendo. É um jogo de xadrez em que cada tarifa, cada acordo e cada viagem têm uma função clara”, afirmou Bento.
O aviso ao Brasil
O analista encerrou com um alerta: o Brasil deve se preparar para ser parte desse xadrez. “Trump vai vir aqui com o mesmo discurso: parcerias, investimentos, cooperação. Mas, no fundo, ele quer garantir o acesso aos nossos minerais e usar as tarifas como ferramenta de pressão. É o estilo dele — imprevisível, mas sempre com um objetivo definido.”