A Rússia tem usado drones para perseguir e expulsar civis que vivem próximos à linha de frente na Ucrânia, em uma estratégia coordenada que, segundo uma investigação da Organização das Nações Unidas divulgada nesta segunda-feira, 27, configura crime contra a humanidade.
O relatório do Conselho de Inquérito Independente sobre a Ucrânia descreve ataques com drones equipados com câmeras e explosivos, que “caçam” moradores e os forçam a abandonar suas casas, transformando regiões inteiras em zonas fantasmas.
A investigação, que será apresentada à Assembleia Geral das Nações Unidas nesta semana, é baseada em 226 entrevistas — entre vítimas, testemunhas e trabalhadores humanitários — e na análise de centenas de vídeos verificados. Segundo o documento, os ataques ocorreram ao longo de mais de um ano em três regiões do sul da Ucrânia, próximas ao rio Dnipro e à linha de frente dos combates.
“Esses ataques foram parte de uma política coordenada para expulsar civis dessas áreas e configuram o crime contra a humanidade de transferência forçada de população”, afirma o texto de 17 páginas. O presidente da comissão, Erik Mose, destacou a intencionalidade dos operadores: “Eles realmente perseguem seres humanos, seja nos jardins, nas casas ou nas ruas.”
O relatório cita o caso de uma moradora de Kherson que, em agosto de 2024, foi seguida por um drone enquanto estacionava o carro. O equipamento lançou explosivos quando ela tentava se abrigar na garagem. No mesmo dia, outros dois drones atingiram sua casa, forçando-a a fugir.
A Rússia nega que suas tropas ataquem civis deliberadamente, embora milhares tenham sido mortos desde o início da invasão em larga escala, há três anos e meio.
A nova investigação amplia conclusões anteriores da ONU, que já havia identificado assassinatos de civis como crimes contra a humanidade. Agora, a organização afirma que há provas consistentes de deportações e transferências forçadas em uma faixa de mais de 300 quilômetros, especialmente na região de Zaporizhzhia, sob controle russo.
O relatório também denuncia que brigadas de resgate, equipes médicas e outros serviços de emergência têm sido deliberadamente atingidos, agravando a crise humanitária nas áreas mais próximas ao front.