Indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF), os ministros André Mendonça e Kássio Nunes Marques são apontados por integrantes do governo Lula como prováveis cabos eleitorais de Jorge Messias no caso de o petista indicar o advogado-geral da União (AGU) para a Suprema Corte na cadeira aberta com a aposentadoria antecipada de Luís Roberto Barroso.
Fiador do nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a vaga, o presidente do Senado Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) fez chegar ao governo nos últimos dias a hipótese de que o nome de Messias não teria apoio suficiente sequer para ser aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, primeira etapa antes da votação do nome do indicado no Plenário. Em um primeiro olhar, interlocutores do Executivo duvidam de um diagnóstico tão peremptório como este, mas afirmam que é neste contexto que a atuação dos dois magistrados do STF se tornaria ainda mais relevante.
Na avaliação de integrantes do núcleo jurídico do Executivo, Nunes Marques já teria uma relação pretérita com Messias e poderia atuar junto às hostes bolsonaristas para demover possíveis resistências ao nome do virtual indicado, um conhecido quadro do PT ligado à ex-presidente Dilma Rousseff e que mais recentemente ganhou a confiança de Lula. No caso de André Mendonça, as semelhanças são mais evidentes: ambos são evangélicos, o que poderia dissolver eventuais ressalvas de alas conservadoras do Senado, mais alinhadas a Bolsonaro.
Um efeito Orloff às avessas também colocaria Mendonça como ator de destaque para cabalar apoios a Messias. Anunciado por Bolsonaro como um nome “terrivelmente evangélico” a uma vaga na mais alta corte do país, André Mendonça passou por uma verdadeira prova de fogo ao ser indicado pelo ex-presidente para o STF em 2021, quando Alcolumbre, então presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), se recusou por quatro meses a pautar a sabatina no Senado. Era uma forma de pressionar para que o governo revisse a escolha e optasse pelo nome do então procurador-geral da República Augusto Aras, o que acabou não ocorrendo.
Na ocasião, Jorge Messias trabalhava no Senado e atuou junto a petistas para que endossassem o nome do indicado de Bolsonaro, que foi aprovado no Plenário da Casa por 47 votos a 32. No mais evidente exemplo de que uma mão lava a outra, o governo projeta que agora André Mendonça irá retribuir a gentileza.