Desde que não consegui fechar o casaco pela primeira vez, vivo mergulhado em múltiplos regimes para emagrecer. Já se vão anos. Portanto, poderia trocar o “um” por centenas, por milhares. Houve até um do qual jamais esquecerei porque funcionou, sim, mas quase pirei. Perdi 5 quilos e fiquei na esperança dos próximos. Era o macrobiótico. À base de arroz integral. Segundo os mestres nipônicos, se alguém só se alimentar de arroz integral, terá corpo e força de atleta. Para aliviar, era permitida uma bardana, nabo cozido… Hoje me admiro porque pouca gente conhece. Mas foi moda, pelo menos até os praticantes mais rígidos serem internados por anemia.
O problema é que sempre há um regime na moda. O último de que tive notícia — e tentei, como não? — foi do jejum intermitente. Funciona, óbvio. Quem não come emagrece. A gente passa horas sem comer. Quanto mais tempo de jejum, melhor. Por exemplo, das 14 horas de hoje às 14 de amanhã. O resto do tempo, só água, no máximo um chazinho sem mel ou açúcar. Tipo uma água quente saborizada. Até um golfinho ficaria delgado com um regime como esse. Eu desfrutava de uma refeição leve às 13 horas, porque, confesso, acordo ao meio-dia (mas adoro trabalhar de noite, antes que me atirem farpas). Tomava um café sem pão, mas com alguma fruta, tipo mamão, às vezes uma aveia, que contém fibras. E parava de comer. À noite, uma fruta, no máximo, embora me avisassem que mesmo uma inocente maçã possui carboidratos assassinos. Só comia de novo no dia seguinte, mesmo horário. Você tem uma ideia do tipo de refeição! Hoje, tal qual a de ontem!
“Estou tão magro que a calça escorregou. Senti certo orgulho. A loucura humana não tem medida”
Emagreci, sim. Tive certeza disso há três semanas, quando saí de casa usando um conjunto de jaqueta e calça, esta com elástico. Em pleno Shopping Jardim Sul, no bairro do Morumbi, em São Paulo, a calça escorregou por minhas pernas e fiquei só de cuecas! Rapidamente, puxei a calça e amarrei com um cordão, enquanto todos os frequentadores me encaravam de olhos arregalados — e tenho certeza que não foi pela minha forma física. Continuei andando como se nada tivesse acontecido. Juro, senti certo orgulho por estar mais magro. Meu raciocínio: estou tão magro que a minha calça escorregou! Acreditem. A loucura humana não tem medida.
Depois, refleti melhor, pensando nos vários aspectos econômicos. Se tivesse que me desfazer de todas as roupas no armário e comprar novas, quanto me custaria o regime? Mesmo porque ao me saber magro eu voltaria à minha antiga dieta de pudins, bolos, pão com manteiga e afins. Nunca tive juízo, por que iria adquirir agora? Desisti do regime e voei até uma padaria comer uma tortinha de morango — quem nunca?
O problema é que minha barriga tem desejos independentes e um desejo voraz de ser satisfeita. O tempo passa, eu juro que vou perdê-la. Mas ela continua estourando o botão das camisas. De preferência, em público. Porque, além do mais, acreditem: barrigas são traiçoeiras.
Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967