Respirar e comer parecem funções corporais muito distantes entre si, mas podem estar mais intrincadas do que se imagina. Uma safra de novas pesquisas indica que a qualidade do cardápio e o peso influenciam o estado e a saúde das vias aéreas.
Evidências da relação entre a dieta e a integridade pulmonar foram apresentadas no último congresso europeu de saúde respiratória, realizado em Amsterdã, na Holanda. Ali, foram divulgados resultados de estudos mostrando que o padrão da alimentação interfere na proteção aos pulmões e no risco de conviver com condições como asma e DPOC, a doença pulmonar obstrutiva crônica.
Em uma análise baseada em dados de mais de 150 000 holandeses, cientistas da Universidade de Groningen descobriram que pessoas que seguiam cardápios compostos majoritariamente de hortaliças, frutas e grãos integrais apresentavam índices melhores de função pulmonar de forma consistente.
No recorte focado em pacientes com DPOC, doença relacionada principalmente ao tabagismo, a adoção de uma dieta mais equilibrada e rica em vegetais reduziu o prejuízo ao estado pulmonar durante o período de avaliação do estudo.
Em outra pesquisa apresentada, parte da iniciativa NutriNet-Santé, que investiga o elo entre alimentação e saúde na população francesa, os experts notaram que indivíduos que seguiam dietas à base de plantas estavam mais protegidos contra a asma – e o benefício era mediado pelo efeito sobre o peso corporal.
Em outras palavras, padrões alimentares baseados em vegetais tendem a ter um impacto positivo sobre o controle do peso, algo que sabidamente interfere na manifestação e na piora da asma.
Outras análises divulgadas e discutidas no encontro corroboram o papel da dieta e do peso sobre essa doença respiratória prevalente. Numa delas, médicos gregos constataram que a adesão a um menu mediterrâneo – tido como um dos mais balanceados do planeta – não mudava o termômetro no controle de casos de asma grave, mas propiciava um efeito positivo quando também havia perda de peso.
Outro estudo que causou repercussão, amparado em dados do banco de saúde pública britânico, o UK Biobank, esmiuçou a possível relação entre uma dieta adequada e a saúde respiratória de um contingente de pessoas constantemente expostas à poluição do ar.
O trabalho, da Universidade de Leicester, na Inglaterra, diagnosticou que o consumo de vegetais, sobretudo frutas, esteve associado à proteção pulmonar, a despeito da exposição aos poluentes atmosféricos.
Os achados apresentados em Amsterdã dão suporte à ideia de que a alimentação equilibrada tem repercussões diretas e indiretas no estado respiratório. Uma das principais hipóteses é que, além de mitigar o excesso de peso e sua sobrecarga às vias aéreas, o perfil anti-inflamatório de cardápios baseados em alimentos naturais e predominantemente vegetais ajude a conter processos danosos por trás de asma, bronquite e DPOC.