Em meio a uma nova viagem internacional — desta vez à Ásia, onde deve se reunir com o presidente Donald Trump —, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por adiar o anúncio de seu indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão, segundo apuração do colunista Robson Bonin, de Radar, reflete o clima de cautela e rearranjo político que tomou conta do Planalto nas últimas semanas.
“O termômetro de Brasília deu uma esfriada. O presidente Lula vai ganhar tempo antes de decidir quem será o novo ministro do Supremo”, afirmou Bonin, no programa Ponto de Vista, de VEJA.
A escolha do substituto na Corte, que vem sendo tratada como uma das mais sensíveis do atual mandato, virou um impasse entre alas do PT e grupos do Judiciário. De um lado, o grupo Prerrogativas e parte da esquerda jurídica pressionam por Jorge Messias, atual advogado-geral da União. De outro, o presidente tenta equilibrar o jogo político para não desagradar o Senado, que será responsável por sabatinar e aprovar o nome.
A escolha e o risco de desagradar aliados poderosos
Segundo Bonin, o presidente teve uma conversa reservada com o senador Davi Alcolumbre (União–AP) antes da viagem — um sinal claro de que Lula sabe o peso político do Senado no processo. E qual seria o ponto mais importante na escolha?
“Mais importante do que escolher é avaliar quem ele vai desagradar. Lula não quer comprar briga com um ex-presidente do Senado, nem com um ex-presidente do TCU, ambos com forte influência na Casa”, destacou o colunista.
A demora também se deve à pressão crescente por representatividade de gênero. Desde o início do governo, Lula foi criticado por reduzir a presença feminina no Supremo. Com a saída de Rosa Weber, a Corte passou a ter apenas uma mulher entre os onze ministros.
“Há um incômodo real com o fato de o presidente só ter indicado homens brancos até agora. Até senadores aliados têm cobrado mais diversidade e equilíbrio na composição do tribunal”, afirmou Bonin.
Senado em alerta e o desgaste institucional
A relação de Lula com o Senado vive um momento delicado. Nos bastidores, cresce a percepção entre os parlamentares de que as últimas nomeações — Cristiano Zanin e Flávio Dino — fortaleceram o Planalto em detrimento do Legislativo.
“Senadores dizem que o presidente só indicou amigos para o Supremo, que depois votaram contra o Congresso e a favor do governo. As decisões de Zanin e Dino são citadas como exemplos de desequilíbrio entre os Poderes”, explicou o colunista.
Esse sentimento reforça a necessidade de cautela do Planalto. Qualquer passo em falso na nova indicação poderia intensificar o desgaste político e complicar votações de interesse do governo na Casa Alta.
Viagem estratégica e encontro com Trump
Enquanto a escolha do ministro fica em suspenso, Lula embarcou rumo à Ásia. Segundo revelou o Radar, com reportagem de Nicholas Shores, o presidente deve ter um encontro com Donald Trump no próximo domingo, parte de uma estratégia diplomática que mistura simbolismo político e reposicionamento internacional.
Bonin lembrou que o timing do adiamento não é coincidência:
“O presidente não quis embarcar em meio a uma disputa doméstica. Ele prefere voltar de viagem com o cenário mais pacificado, com o Senado alinhado e com a escolha amadurecida.”
A “calmaria rara” descrita por Bonin em Brasília, no entanto, parece apenas o intervalo antes da próxima tempestade política. Quando Lula retornar, o Planalto voltará a enfrentar o mesmo dilema: escolher um ministro que agrade a aliados sem provocar um novo terremoto institucional.