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A nova dor de cabeça internacional de Lula

O governo Lula enfrenta um novo constrangimento ambiental em escala global. Às vésperas da COP30, que será realizada em Belém, o Ibama autorizou a Petrobras a iniciar perfurações exploratórias na Margem Equatorial, a cerca de 500 quilômetros do litoral do Amapá — uma decisão que, embora celebrada politicamente no Congresso, representa uma fissura interna no próprio governo.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União–AP), um dos principais articuladores da liberação, comemorou publicamente a medida. “Hoje é um dia sonhado pelos amapaenses e pelo Brasil. Há mais de uma década esperávamos essa oportunidade de explorar nossas riquezas. É uma conquista pessoal e institucional”, disse Alcolumbre, em tom de vitória política.

Mas, como destacou o colunista Robson Bonin, de Radar, durante o programa Ponto de Vista, de VEJA, o episódio aprofundou a contradição entre o discurso ambiental de Lula e a prática desenvolvimentista do governo.

A contradição que chega à vitrine do planeta

Segundo Bonin, o Planalto vive uma crise que ele chama de “a eterna contradição petista” — o conflito entre a vocação econômica de exploração de recursos e o discurso verde de liderança global no combate à crise climática.

“A área ambiental segurou essa decisão até a véspera da COP30, justamente para expor a incoerência. O governo vai chegar à maior vitrine ambiental do planeta tendo liberado a perfuração de um poço de petróleo praticamente dentro do ecossistema amazônico”, observou.

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A medida coloca o Brasil em uma posição delicada diante da comunidade internacional. A COP, marcada para discutir a redução do uso de combustíveis fósseis e a proteção das florestas tropicais, agora terá como anfitrião o mesmo país que acaba de autorizar a ampliação da fronteira petroleira na Amazônia.

Um governo sob pressão

Bonin lembrou que o próprio Lula pretendia usar a conferência como um palco de afirmação de sua imagem de “líder ambiental global”, retomando o protagonismo diplomático do país após os anos Bolsonaro.

“O presidente queria surfar como o grande defensor do clima. Agora, vai ter de se explicar: como é possível defender o planeta e, ao mesmo tempo, tirar petróleo da Amazônia?”, ironizou o colunista.

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O dilema é agravado por fatores políticos internos. A decisão do Ibama atende diretamente a pressões de Alcolumbre e de parte do Centrão, que cobram do governo gestos concretos em favor do desenvolvimento regional. A resistência ambientalista — liderada pela ministra Marina Silva — ficou isolada.

“Lula é um presidente enfraquecido, que não tem condições de bater de frente com o Congresso. A pressão econômica e política foi mais forte”, resumiu Bonin.

O tempo político e a conta ambiental

O caso chega em um momento sensível. Na semana anterior, o governo já havia evitado por pouco outra crise climática: a votação dos vetos presidenciais à lei de licenciamento ambiental, que flexibiliza regras de proteção e poderia desmoralizar o discurso verde do Planalto antes da COP.

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Alcolumbre, novamente, interveio para adiar a análise, poupando Lula de um novo desgaste imediato — embora o tema deva voltar à pauta logo após o evento em Belém.

Para Bonin, a sucessão de episódios revela um governo preso entre a necessidade política de agradar aliados e o compromisso internacional de manter uma agenda sustentável.

“O Brasil vai à COP dizendo que defende o clima, mas chega com as mãos sujas de petróleo”, concluiu o colunista.

A frase sintetiza o impasse: Lula quer ser o líder verde do mundo, mas governa um país que ainda depende do ouro negro.

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