A autorização do Ibama para que a Petrobras perfure na Margem Equatorial veio embalada no discurso oficial da “transição energética responsável”. Uma expressão confortável, dessas que viajam bem entre fóruns internacionais e palanques domésticos sem arranhar a imagem de ninguém.
O problema é que a região fica próxima a um dos ecossistemas mais sensíveis do país, com planos de contingência que, até agora, parecem mais esperançosos do que testados.
Enquanto governadores do Norte celebram a perspectiva de royalties antes mesmo de se saber se há petróleo em escala comercial, o governo federal tenta equilibrar a credencial “verde” com a necessidade de demonstrar vigor econômico. A Petrobras enxerga a chance de reeditar o efeito pré-sal — desta vez sob olhar atento da comunidade internacional, às vésperas da COP30.
Mas a fase em que o discurso de segurança precisa se transformar em prática concreta costuma ser o ponto de fricção. A região exige vigilância constante, resposta rápida e responsabilidade pública em todas as etapas. Se essas condições não forem cumpridas com clareza, o projeto pode se tornar exemplo de aposta precipitada.
O petróleo pode estar lá embaixo. A cobrança, certamente, estará aqui em cima.