Em plena “Era da informação”, cinco oficiais militares atuaram para garantir a desinformação na chamada trama golpista, que resultou, em última instância, no 8 de janeiro. É o que apontou o procurador-geral da República, Paulo Gonet, nesta terça-feira, 14, ao pedir a condenação dos sete réus do chamado núcleo 4. O julgamento é importantíssimo e tem valor histórico.
Segundo a PGR, é no núcleo da desinformação onde a tentativa de golpe se inicia. São esses sete acusados, incluindo dois civis, que teriam recebido a ordem do então presidente Jair Bolsonaro e demais aliados, a criar um ambiente disposto a gerar desinformação contra as instituições democráticas, incluindo, o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral e o sistema das urnas eletrônicas.
“Foi por meio da contribuição deste núcleo de acusados que a organização criminosa elaborou e disseminou narrativas falsas quanto o processo eleitoral, quanto os poderes funcionais e as autoridades que os representam, dando surgimento e impulso à instabilidade social ensejadora da ruptura institucional”, destaca Gonet na acusação.
São acusados de integrar o núcleo 4:
Ailton Moraes Barros, ex-major do Exército;
Ângelo Denicoli, major da reserva do Exército;
Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, presidente do Instituto Voto Legal;
Giancarlo Rodrigues, subtenente do Exército;
Guilherme Almeida, tenente-coronel do Exército;
Marcelo Bormevet, agente da Polícia Federal;
Reginaldo Abreu, coronel do Exército.
Cinco deles, oficiais militares.
Não é a primeira vez que o Exército Brasileiro usa a desinformação para gerar pânico social e inflar o medo da instauração de uma suposta ditadura de esquerda. É o modus operandi das Forças Armadas para destituir a democracia.
Em 1964, oficiais militares disseminaram que João Goulart era comunista. A partir da consolidação deste ambiente de medo, o golpe foi dado para a tomada do poder pela extrema-direita por 20 anos. João Goulart nunca foi comunista, longe disso; ele foi trabalhista.
A tradição golpista militar vem desde a fundação da República: passa por 1922, com a revolta contra a eleição de Artur Bernardes; em 1924, na tentativa de derrubar o governo do presidente Artur Bernardes; em 1935, período de repressão que culminou com a implantação do Estado Novo, em 1937, e findou com a redemocratização e a deposição de Vargas, em 1945; em 1955, na tentativa contra Juscelino Kubitschek, até 1964, que foi o momento mais sombrio da nossa história desde o genocídio dos povos indígenas e a escravização do povo negro.
Que os envolvidos sejam julgados e punidos pelos crimes que são acusados: tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
As condenações não apagarão o passado, mas reforçarão uma mensagem essencial para o futuro: no Brasil, não há espaço para golpistas.