Se um dia você estiver no fundo do poço, dominado por um regime maligno que controla todos os mecanismos do poder e , grotescamente, pretende ser de esquerda, será bom ter ao seu lado alguém como María Corina Machado. O Nobel da Paz ajuda a preservar a sua integridade física, mas a personalidade formidável da líder da oposição venezuelana se projeta muito além da premiação. María Corina é maior ainda do que o Nobel, é uma guerreira inquebrantável, uma mulher de direita que encontrou o caminho para apelar a diferentes setores da opinião pública, cruelmente sufocada pelo regime de Nicolás Maduro. Por causa dessa extraordinária capacidade de resistência, de apelar ao povão e simultaneamente montar uma rede de apuração real na qual demonstrou preto no branco a roubalheira eleitoral de Nicolás Maduro, ela é odiada pela esquerda sem princípios nem honra, na verdade dominada por avatares deformados dos verdadeiros ideais esquerdistas. Note-se a reação asquerosa do líder supremo da diplomacia brasileira. Verde de inveja pela premiação, que os áulicos sempre imaginaram ver recair sobre Lula da Silva, disse Celso Amorim: “Não sei os critérios do Nobel. Nem ponho em dúvida as qualidades pessoais da María Corina”. Obviamente, ele estava fazendo exatamente isso.
A engenheira María Corina é um raro caso de líder política latino-americana que não faz concessões ao populismo, embora o povão a adore e a cubra de terços – ou cobria, pois ela não pode sair mais às ruas onde fez a campanha que humilhou Nicolás Maduro, com uma eleição em que os votos que ela pediu para Edmundo González lhe valeram uma vitória jamais reconhecida.
Maduro, irrefutavelmente, ganhou: falsificou os resultados, sem sequer se dar ao trabalho de fazer uma roubalheira bem planejada. Forçou González e outros líderes oposicionistas a tomar o caminho do exílio, transformou María Corina numa morta-viva – ela não vai presa, mas não pode mais aparecer. É usada também como uma refém não declarada. “Se nos apertarem, nós a apertaremos”, ameaçou uma figura repugnante do regime boliviariano, Diosdado Cabello.
Na falta de explicação melhor para traçar um retrato dessa força da natureza, a revista inglesa The Spectator a definiu como uma mistura de Margaret Thatcher com Evita. Não deixa de ser um recurso interessante. Sem nenhuma enrolação, María Corina é de direita, do tipo que admira Milton Friedman e não transige em suas convicções. Outras políticas de direita têm posições importantes hoje no mundo. Marine Le Pen na França, Giorgia Meloni na Itália, Kemi Badenoch na Grã-Bretanha e agora Sanae Takaichi no Japão, que tem como hobby tocar bateria na linha heavy metal. São diferentes e atuam em cenários políticos com características próprias. Mas certamente nenhuma delas tem o heavy metal na alma, a chama que queima em María Corina, a aura de ser uma perseguida política que enfrenta um regime execrável, uma farsa maligna que tomou conta de um dos países mais importantes da América Latina, com petróleo suficiente para conseguir o que nunca conseguimos – dar um significativo salto à frente para melhorar a vida de toda a população. Com o lamentável regime bolivariano, a Venezuela deu muitos saltos atrás e conseguiu o prodígio de colocar 90% da população na faixa da pobreza. O ódio da esquerda a María Corina comprova que seus seguidores preferem ver os venezuelanos sufocar na miséria a admitir que ela seria uma alternativa para a redemocratização e, na verdade, a salvação da Venezuela depois do hediondo período chavista. Se não desse certo, sempre haveria o voto – com ou sem Nobel -, uma opção que hoje os venezuelanos não têm.