Em evento realizado durante o Conselho de Administração da UC3, realizada durante a 32.ª Assembleia Geral dos Clubes Europeus, em Roma, a Uefa confirmou, nesta segunda-feira, 13, aquilo que chama de revolução histórica na Champions League, considerada a principal competição do mundo. Entre as principais mudanças, que acontecerão a partir da temporada 2027, está a estreia de um pacote global exclusivo de streaming, com um jogo por rodada transmitido integralmente em plataforma digital, alám da reformulação do calendário e uma cerimônia de abertura. A entidade que controla o futebol europeu acredita que deva conseguir mais de € 5 bilhões (cerca de £ 4,4 bilhões) por ano com essas mudanças.
Assim como já havia sido revelado há algumas semanas, inicialmente pelo diário português A Bola, uma das principais mudanças será a criação de um pacote global de primeira escolha, que vai permitir a transmissão exclusiva em streaming de um jogo por jornada da competição, acompanhando as novas tendências de consumo e ampliando o alcance mundial da competição.
De forma inédita, vai ser lançado uma licitação simultânea nos cinco maiores mercados da Europa — França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido, com a introdução de contratos mais longos, de até quatro anos, para garantir maior estabilidade aos detentores de direitos e previsibilidade financeira para os clubes.
“A venda avulsa é um risco interessante de se observar e inimaginável há alguns anos, quando se considerava fundamental promover a competição de forma integral nos canais de distribuição, para justificar os altos investimentos. De certa forma, a descentralização da distribuição também está criando uma descentralização na promoção. Ainda levará algum tempo para termos clareza de se essa mudança trará mais resultados ou se a concentração de interesse em jogos de maior audiência poderá diminuir a rentabilidade total do produto”, explica Bruno Maia, Sócio da produtora Feel The Match, uma desenvolvedora de propriedades intelectuais para streaming.
Um destaque para essa licitação, que deve elevar os valores com faturamento e novas receitas, é que ela vai incluiur novas abordagens de patrocínio e licenciamento, promovendo colaborações mais estreitas entre marcas e parceiros mediáticos. O prazo para a apresentação de propostas termina a 18 de novembro, e os detalhes dos contratos individuais serão divulgados em breve.
Outra novidade que deve ocorrer é sobre o calendário, já que o campeão europeu iniciará a defesa do título num jogo isolado à terça-feira, em casa, antes do restante das outras partidas, que acontecerão na quarta e quinta-feira. Também está prevista uma gigantesca cerimônia de abertura, com show e atração musical, que vai marcar o início de cada disputa por temporada.
Esse novo modelo de direitos de transmissão deve marcar definitivamente a entrada de plataformas como Netflix, Disney+ e Amazon Prime Video, reconhecidas pela própria Uefa como potenciais vencedores dessa disputa.
“O crescimento do mercado de streaming se dá não só pelo aumento do número de usuários mas também pelo surgimento de novas plataformas a cada mês com conteúdos diversos, nesse aspecto, a disputa pela audiência tende a aumentar cada vez mais assim como o desafio de educar o consumidor sobre qual canal transmitirá determinado conteúdo”, aponta Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM.
Na última semana, o jornal norte-americano The Times, divulgou que a plataforma que ganhar os direitos globais terá a primeira escolha dos jogos de terça-feira, mas terá um limite no número de partidas com um mesmo time — então, por exemplo, não poderá selecionar o Real Madrid para todas as rodadas. A publicação cita a entrada da Netflix como uma das principais atrações deste novo movimento.
Aos poucos, a plataforma de streaming vem tentando fazer movimentos de entrada no esporte, mas ainda a passos lentos em transmissões esportivas ao vivo. A principal entrada do Netflix no segmento foi com o lançamento de séries e filmes, impulsionada, é verdade, pelo estrondoso sucesso de Drive do Survive, lançada no começo de 2019 e que, neste ano, chegou à sétima temporada.
A entrada quase que “forçada” nesse modelo de transmissão tem a ver com a concorrência, já que Prime Video, Apple TV+ e Star+ seguem este movimento e representam a consolidação da fusão entre o esporte e as plataformas de streaming.
“A TV aberta não detém mais o monopólio das transmissões esportivas de décadas atrás, uma mudança acelerada pela pandemia. Hoje, o streaming oferece aos espectadores não apenas flexibilidade, mas também a chance de se aprofundar mais na narrativa esportiva, nas estatísticas e nos bastidores das competições. Essa evolução está redefinindo a maneira como consumimos entretenimento esportivo”, conta Fábio Wolff, especialista em marketing esportivo e sócio-diretor da Wolff Sports.
Além disso, países como França e Espanha estão na mira da Uefa com esse novo modelo de negócios, já que os dois países não negociam suas transmissões com o mercado de streaming, mas, sim, com os canais Canal+ e Telefonica, respectivamente.
Somente no último ano, com a mudança no formato e regulamento para uma fase de grupos com mais clubes, o aumento com receitas de transmissões nos principais mercados europeus foi de 18%.
Até 2027, quando esse novo modelo de direitos de transmissão deve entrar em vigor, a UEFA projeta € 4,4 bilhões em receitas anuais por cada uma das temporadas das competições em que organiza, casos da Liga dos Campeões, Liga Europa, Liga da Conferência e Supercopa.