Segunda-feira, 13 de outubro. O relógio marcava o compasso da tarde, e a Estação Júlio Prestes, em São Paulo, se transformava em um palco inesperado. Entre o vai e vem dos trens, passos apressados e bilhetes riscados, surgiu a passarela sobre trilhos: Gloria Coelho chegava com sua coleção “O futuro se constrói em movimento”, que celebra o movimento, a memória e o futuro.
Cada composição era uma viagem, cada look, um gesto de invenção. Ali, entre aço e vapor, tradição e tecnologia se encontravam, e a moda seguia seu curso, sempre em frente, como uma locomotiva que não conhece pausa. A bordo de um trem da CPTM, o público experimentou algo raro: a moda que literalmente se move, que conta histórias e que conecta tempos distintos. “Daqui um tempo, as pessoas vão se inspirar na gente, em 2020. Como se nós fôssemos o retrô que hoje são os anos 1960, e assim caminhará o futuro. É preciso movimento”, disse Gloria a VEJA.
O movimento é o fio condutor da coleção. Inspirada pelo século 19 e pela expansão ferroviária, Gloria traça um paralelo com o presente, em que a inteligência artificial promete redesenhar o mundo. “Relacionamos a Revolução Industrial com a chegada da IA, que vai modificar muita coisa. Pegamos aquele período e imaginamos como essas meninas estariam hoje”, comentou a estilista, que celebra os 50 anos de carreira da estilista e os 30 anos do São Paulo Fashion Week.
“Desfilar dentro de uma estação é quase poético. O trem parte, chega, leva histórias, traz memórias. É exatamente o que sinto ao olhar para a minha trajetória: evolução, encontros e novos começos”, completou a estilista, olhando adiante e vislumbrando a própria influência futura.
Na passarela-trem, tempos e referências se entrelaçam: corsets e ternos de linhas arredondadas dialogam com bordados de tule e flores, enquanto volumes, franjas e superfícies trabalhadas à mão reforçam a singularidade artesanal da marca. Tecidos tecnológicos, como o Tecno K, com ação antibacteriana e estímulo à circulação, convivem com gabardine Armani e cetim de seda em cores que vão do preto e azul ao bordô e rosa.
A inovação também floresce nas estampas. Um floral elisabetano foi reinterpretado digitalmente por Pedro Lourenço, filho da estilista, a partir de imagens geradas por inteligência artificial, estabelecendo um diálogo entre tradição e modernidade – marca registrada da carreira da estilista.
Entre passado e futuro, memórias e experimentos, Gloria lembra que a moda, como um trem, nunca para. Cada desfile vem em uma estação, cada coleção se configura em uma nova viagem criatva – e o futuro, como ela mesma diz, seguirá seu curso, sempre se construindo em constante movimento.



Gloria Coelho verão 2026 / SPFW N60
