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Após libertação de reféns, quais são os obstáculos para o cessar-fogo

A libertação dos 20 reféns que eram mantidos vivos em Gaza e de mais de 100 palestinos que estavam detidos em prisões em Israel nesta segunda-feira, 13, colocam em andamento a primeira fase do plano de 20 pontos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mas o pontapé vem acompanhado de uma série de dúvidas sobre a possibilidade de uma paz duradoura na região: o Hamas aceitará o desarmamento? As forças de Israel sairão do enclave por completo? Quem governará Gaza? O Estado da Palestina sairá do papel?

Em entrevista à emissora americana ABC News na semana passada, Trump parecia compenetrado na libertação total dos sequestrados em 7 de outubro de 2023, vivos e mortos. Para além dos reféns soltos nesta segunda, há ainda os restos mortais de outros 28. Os próximos passos, contudo, pareciam ainda pouco delimitados na linha do tempo.

O republicano disse que ambos os lados “concordaram com algumas coisas”, prometendo sem dar detalhes: “Haverá desarmamento. Haverá recuos. Muitas coisas acontecerão”. Não se sabe, contudo, em que pé está o processo de retirada das tropas israelenses. Embora tenham divulgado um mapa que indique a saída progressiva, as Forças de Defesa de Israel (FDI) admitiram não ter a localização exata dos soldados. As posições são incertas, assim como partes do acordo.

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Entrada de ajuda humanitária

Agências das Nações Unidos e grupos humanitários começaram a distribuir suprimentos em Gaza neste domingo, 12. Estima-se que 600 caminhões poderão entrar no enclave, onde fome generalizada foi declarada em agosto. Ao menos 430 palestinos morreram por desnutrição, incluindo 150 crianças, nos últimos meses.

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O acordo define que “a entrada de distribuição e ajuda na Faixa de Gaza ocorrerá sem interferência das duas partes, por meio das Nações Unidas e suas agências, e do Crescente Vermelho, além de outras instituições internacionais não associadas de forma alguma a nenhuma das partes”. Em paralelo, o plano de Trump prevê um processo de reconstrução: “a reabilitação da infraestrutura (água, eletricidade, esgoto), a reabilitação de hospitais e padarias e a entrada de equipamentos necessários para remover escombros e abrir estradas”.

Mas não há menção ao bloqueio terrestre, marítimo e aéreo a Gaza, que restringe as importações e a circulação da população desde 2007. Antes dos ataques do Hamas, o desemprego no território era de 46%, ao passo que 62% dos moradores dependia de assistência alimentar devido aos limites impostos às importações, abrangendo alimentos básicos a itens agrícolas. Sem a revogação do cerco ao enclave, a mudança do panorama econômico e humanitário de Gaza, destruída pelos dois anos de guerra, será difícil.

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Desarmamento do Hamas é incerto

Ao mesmo tempo, o plano de obrigar os combatentes a largarem as armas não tem “nenhum mecanismo claro de execução”, afirmou David Butter, pesquisador associado do Programa do Oriente Médio e Norte da África da Chatham House, à ABC News. No passado, outros acordos de cessar-fogo, como o elaborado pelo ex-presidente Joe Biden, fracassaram.

É verdade, no entanto, que a proposta de Trump avança, na teoria, em uma série de pontos: estabelece a criação de um “Conselho de Paz”, comandado pelo líder americano, mas com a participação de palestinos e chefes de Estado; prevê a saída da tropas israelenses e a desmilitarização do Hamas; e abre espaço para o Estado da Palestina.

Só que transformar promessas em realidade não é tarefa simples. O Hamas indica que o desarmamento está sujeito ao reconhecimento de um Estado palestino soberano e à saída completa dos soldados israelenses do território. Na última sexta-feira, 10, facções em Gaza declararam que não aceitariam tutela estrangeira, como seria o caso do “Conselho de Paz”, e que um futuro governo deveria ser determinado “diretamente pelo componente nacional do nosso povo”. Ou seja, definido apenas pelos palestinos.

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Criação do Estado da Palestina

Trump disse à ABC News que não tinha “uma opinião formada” sobre o Estado da Palestina, mas que aceitaria “o que eles concordarem”. Antes do OK do Hamas e do governo israelense, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aprovou um controverso plano de um território E1, entre Jerusalém e o assentamento de Maale Adumim, na Cisjordânia, com o objetivo de “enterrar” um Estado palestino. Do outro, os membros do Hamas apresentam como demanda central uma terra soberana. É um desafio.

A proposta prevê que Gaza será “governada sob a governança transitória temporária de um comitê palestino tecnocrático e apolítico, responsável por administrar diariamente os serviços públicos e os municípios para o povo de Gaza”. Não informa, no entanto, como esse comitê será escolhido. O documento afirma que “ninguém será forçado a deixar Gaza, e aqueles que desejarem sair serão livres para fazê-lo e retornar”, destacando: “Incentivaremos as pessoas a ficar e ofereceremos a elas a oportunidade de construir uma Gaza melhor”.

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O acordo de Trump é, sobretudo, condicional ao fincar que “à medida que o redesenvolvimento de Gaza avança e o programa de reforma da AP é fielmente executado, as condições podem finalmente estar reunidas para um caminho confiável para a autodeterminação e a criação de um Estado palestino”. Depende, portanto, de que passos complexos sejam bem-sucedidos do ponto de vista do presidente dos EUA, conhecido pela imprevisibilidade. Assombrados pelos traumas da guerra, os palestinos caminham em direção a um futuro incerto.

 

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