O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta segunda-feira, 13, um acordo com o Egito, Catar e Turquia, principais mediadores nas negociações entre Israel e Hamas para o fim da guerra em Gaza, que garante o compromisso das partes com a implementação do cessar-fogo no enclave.
A cerimônia de assinatura veio após o cumprimento das primeiras fases da trégua, com a pausa nos combates no território e a libertação dos vinte reféns israelenses em posse dos terroristas em troca de 1.900 palestinos detidos em prisões israelenses, e ocorreu na cidade egípcia de Sharm El-Sheikh, onde mais de vinte líderes mundiais se reuniram para uma cúpula que discutirá as próximas etapas do processo de paz.
Garantidores
Ao assinar o documento, Trump declarou que o cessar-fogo em Gaza “vai se manter”. Ele ainda deve fazer mais um pronunciamento após a cúpula e acrescentou que “pode ficar com os líderes” para discussões às margens do evento.
Ainda não foram divulgados detalhes sobre o acordo de Sharm El-Sheikh, mas uma fonte diplomática havia afirmado mais cedo à agência de notícias AFP que o texto representa um compromisso com a trégua em Gaza. “Os signatários serão os garantidores – EUA, Egito, Catar e provavelmente a Turquia”, disse o diplomata, sob condição de anonimato. Já o Ministério das Relações Exteriores egípcio havia dito que a cúpula no país veria um “documento que põe fim à guerra em Gaza” assinado.
No discurso de abertura da cúpula, Trump, que comanda a reunião em parceria com o presidente do Egito, Abdul Fatah Khalil al-Sisi, elogiou os líderes do Catar e da Turquia, destacando seus esforços nas negociações entre Israel e Hamas. Ele também agradeceu ao seu homólogo egípcio, chamando-o de “um homem e general fantástico”.
“Vamos assinar um documento que definirá muitas regras e regulamentos e muitas outras coisas. É muito abrangente”, disse Trump no início do que descreveu como uma “cúpula da paz”. Ele acrescentou que “levamos entre 500 e 3.000 anos para chegar neste ponto”.
O presidente americano também afirmou que o cessar-fogo em Gaza “está realmente funcionando incrivelmente bem”.
Cálculo político
No entanto, nenhum representante de Israel ou do Hamas estava presente na cerimônia de assinatura em Sharm El-Sheikh. Após circularem relatos de que Benjamin Netanyahu viajaria para a cidade egípcia nesta segunda-feira, 13, o gabinete do primeiro-ministro de Israel comunicou o cancelamento de sua ida devido ao feriado judaico de Shemini Atzeret e Simchat Torá, que começa nesta noite.
Embora Bibi não seja religioso, é costume que o premiê israelense não viaje em feriados judaicos. Coalizões governamentais ruíram no passado devido a tensões entre religiosos e seculares, e ele conta com o apoio de legendas ultraortodoxas de extrema direita para manter-se no poder. Os ministros das Finanças, Bezazel Smotrich (Partido Sionista Religioso) e da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir (Poder Judaico) já tinham se oposto ao acordo de cessar-fogo e ameaçaram deixar sua coalizão.
A cúpula também poderia ter sido politicamente arriscada, visto que o líder israelense teria que se encontrar com Mahmoud Abbas. A direita israelense frequentemente critica o presidente da Autoridade Palestina (AP), que governa de forma limitada a Cisjordânia, por considerá-lo pouco superior ao Hamas. A presença de Abbas ocorre num contexto em que líderes regionais fazem pressão para que a AP esteja envolvida em um futuro governo de Gaza.
De acordo com o canal israelense Kan TV, Netanyahu cancelou a reunião devido a preocupações ostensivas com conflitos dentro de sua coalizão caso ele viajasse durante um feriado judaico. No entanto, o partido ultraortodoxo Judaísmo Unido afirmou não ter feito ameaças a esse respeito.
O acordo de cessar-fogo deixou muitas questões pendentes sobre o que vai acontecer a seguir em Gaza, incluindo se o Hamas concordará com a exigência de Netanyahu e entregar suas armas. Antes de fazer discurso ao parlamento de Israel, o Knesset, nesta manhã, Trump disse a repórteres que o grupo vai se desarmar, segundo a agência de notícias Reuters. Também há a exigência do Hamas de que as forças israelenses se retirem completamente da Faixa de Gaza — embora o plano de 20 pontos apresentado pelo presidente dos Estados Unidos tenha estipulado que isso aconteça, não estabeleceu um cronograma nem prazo máximo. Muitas dessas questões devem ser abordadas na cúpula no Egito.