Um estudo inédito da Ativaweb sobre a presença digital das duas Casas do Congresso revelou um “abismo” entre o Senado e a Câmara.
Enquanto o Senado se consolida como instituição “estável e pedagógica”, a Câmara vive um “colapso narrativo e reputacional”, com baixo engajamento, aumento de críticas e perda de credibilidade pública, diz o levantamento.
Baseado em dados da Meta e processado pelo Ativaweb Data Lab, o estudo mostra que o Senado tem 58% mais engajamento e o dobro de aprovação digital em comparação à Câmara.
Mas o ponto mais grave, segundo a análise, é a “ausência de liderança visível” do presidente Hugo Motta (Republicanos-PB), cuja atuação é descrita como “discreta, protocolar e distante do cidadão”.
“No digital, quem não fala perde o controle da narrativa. Hugo Motta assumiu a presidência da Câmara, mas não assumiu a comunicação da Casa”, afirma Alek Maracajá, presidente da Ativaweb e especialista em big data político.
Com engajamento médio de apenas 0,12% e crescimento nulo de seguidores em 2025, a Câmara estagnou digitalmente. Segundo o estudo, as publicações são “frias, técnicas e desconectadas da realidade popular”.
Entre os posts mais recentes, predominam imagens de plenário, notas de votação e textos institucionais sem emoção ou contexto.
Nas menções públicas, cresce o volume de críticas associadas à “falta de transparência”, “baixo nível de debate” e “incompetência comunicacional dos deputados”.
“A Câmara transformou a comunicação em cartaz de pauta. O problema é que o povo não lê cartaz – quer entender o impacto real de cada decisão”, avalia Maracajá.
O nome de Hugo Motta aparece em 34% das menções ligadas à Câmara nas redes sociais, quase sempre associado à falta de protagonismo.
A Ativaweb descreve um “silêncio digital” de Motta, que, na visão da consultoria, “abre espaço para que as críticas à instituição se tornem críticas pessoais, afetando diretamente sua imagem pública”.
O estudo também aponta que o nível dos discursos parlamentares reflete na percepção popular: postagens com trechos de falas de deputados geram mais rejeição que engajamento.
Entre os termos mais associados à Câmara em 2025 estão: “briga”, “gritaria”, “impasse”, “CPI”, “crise” e “falta de liderança”.
“O plenário virou palco de discursos para as redes, mas sem substância. Falta preparo, estratégia e consciência digital coletiva. A Câmara fala para si mesma”, critica Maracajá.
O Senado lidera o Índice de Aprovação Digital (IAD) da Ativaweb com nota 8,7 de 10, contra 5,9 da Câmara.
Com linguagem didática e campanhas de impacto – como o Setembro Amarelo e a divulgação da Lei 14.811/2024, que visa combate o bullying dentro e fora do universo digital – o Senado se tornou “o símbolo da comunicação pública equilibrada”.
“O Senado entendeu que explicar é mais poderoso do que anunciar. A Câmara ainda acredita que publicar é o suficiente — e não é mais”, completa Maracajá.