É, no mínimo, preocupante do ponto de vista de saúde pública a ‘cruzada’ contra o uso do protetor solar nas redes sociais. Esse movimento que dissemina argumentos pseudocientíficos, afirmando que o produto “é químico demais”, que “causa câncer” ou “problemas endócrinos”, causa um dano real ao colocar a pele em risco, especialmente no Brasil, que registra mais de 220 mil novos casos de câncer de pele não melanoma por ano, o que mostra a gravidade do problema.
As postagens confundem “naturalidade” com segurança, o que engana as pessoas. Vídeos estimulando a exposição solar, usando óleos, manteigas ou ainda a ausência de proteção, subestimam os riscos da radiação ultravioleta (UV).
A exposição ao sol em excesso ao longo dos anos sem uso de protetor solar aumenta risco de câncer de pele, com carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular. Além de reduzir esse risco, o protetor também previne o melanoma, tipo mais agressivo do câncer de pele, já que diminui os danos diretos e indiretos ao DNA causados pela radiação ultravioleta.
A falta de proteção solar também eleva o risco de queimaduras, envelhecimento precoce, manchas e alterações pré-cancerígenas.
Isso acontece por que a radiação solar é dividida em UVA e UVB. A radiação UVA tem comprimento de onda mais longo e atinge camadas mais profundas, degenerando o colágeno e fibras elásticas da derme. Ela também produz radicais livres que aumentam o risco de câncer. A radiação UVB atinge principalmente a epiderme e causa queimadura.
O protetor solar é um guardião da pele. Ele pode ter filtros físicos que agem como uma parede de tijolos, onde a luz bate e volta, sem absorvência; ou conter filtros químicos que filtram os raios nocivos, ou seja, há uma transformação química da energia da radiação ultravioleta e a energia de baixa intensidade que atinge a pele não traz os malefícios da radiação.
Alguns argumentos de quem é contra o uso de protetor solar giram em torno do ‘bloqueio’ da vitamina D, mas bastam poucos minutos de sol em pequenas áreas do corpo para estimular sua produção. E mesmo quem usa protetor continua sintetizando essa vitamina, só que de forma mais segura.
Em relação ao impacto ambiental, filtros como a oxibenzona estão em discussão, mas já existem alternativas seguras, e as agências regulatórias monitoram continuamente esses compostos.
Sobre a possível toxicidade, com os chamados ‘disruptores endócrinos’, os estudos foram feitos em animais ou em laboratório, sempre com altas concentrações que superam a quantidade utilizada na formulação dos protetores.
Em humanos, mesmo quando pequenas quantidades desses filtros são detectadas no sangue ou urina, não há comprovação de risco à saúde. Agências regulatórias como FDA, dos Estados Unidos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e EMA (da Europa) continuam considerando os filtros solares seguros.
A proteção consistente contra a radiação UV é amplamente recomendada por sociedades médicas e campanhas de saúde pública. As diretrizes orientam que medidas de fotoproteção sempre sejam adotadas, como uso de filtro solar, roupas adequadas, chapéus e óculos escuros.
Na hora de escolher um protetor solar, é essencial optar por produtos com FPS igual ou superior a 30 e proteção de amplo espectro (UVA e UVB). Também é importante verificar se o protetor é resistente à água, fotoestável e adequado ao tipo de pele, como fórmulas oil-free e não comedogênicas para peles oleosas, ou filtros físicos para peles sensíveis.
*Flávia Brasileiro é dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, e Ramon Andrade de Mello é médico oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil (São Paulo), vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, pesquisador e professor do Doutorado da Universidade Nove de Julho (Uninove), de São Paulo