“E gente jovem lá quer tirar foto comigo?”, perguntou Fernanda Montenegro surpresa diante de um adolescente que a tietava. “Claro! Meus amigos não vão acreditar. A gente te acha incrível”, respondeu o garoto em nome de toda uma geração. Era o fim da sessão de Gêmeas, longa de 1999, exibido em versão restaurada no Festival do Rio na noite de sexta-feira, 10. A produção que adapta um conto de Nelson Rodrigues marca uma virada na família de Montenegro: foi ali a primeira parceria do trio formado por ela, sua filha Fernanda Torres e o diretor e genro Andrucha Waddington. “Somos uma família que se encontrou”, anunciou Fernandona no início da sessão. “Uma família de circo”, complementou Nanda.
Veteranas do audiovisual brasileiro, as já famosas “Fernandas” ficaram ainda mais atrativas desde o furacão Ainda Estou Aqui no ano passado. Torres se tornou a “rainha do engajamento” nas redes sociais. Logo, as duas estão constantemente na mira dos celulares. Ao fim da sessão de Gêmeas, quando os braços que seguravam os celulares ao redor se renderam ao cansaço e a sala começou a se esvaziar, me aproximei de Fernanda Montenegro e de sua empresária e amiga de longa data, Carmem Mello. No meu posto de jornalista intrometida, vi a chance de pedir uma entrevista fortuita.
Carmem me apresentou à atriz dizendo sobre meu desejo de entrevistá-la. Fernanda, educadíssima e com sua voz grave, respondeu: “minha querida, minha agenda é muito apertada. Não tenho tempo para entrevistas. E também, já estou falando há tantas décadas de vida pública, nem tenho mais o que dizer”. Gentilmente discordei. “Tenho certeza que a senhora tem muito a dizer”, respondi como quem se prostra diante de uma sábia anciã — ao menos para essa tribo de loucos amantes de cinema.
“A senhora pode, por exemplo, me dar a receita de como ter tanta vitalidade depois dos 90.” Fernanda, como se me conhecesse há uma vida, segurou em meu braço e respondeu: “todo dia, acorde, levante e dance. Não podemos parar.” Ela continuou. “Aos 95 anos, meu corpo pede pra ficar deitado. Mas eu não me rendo.” Fernanda então listou a agenda corrida: a atriz está em turnê com leituras dramáticas de textos de Nelson Rodrigues e Simone de Beauvoir, apresentações que celebram suas oito décadas de carreira. “E eu ainda tenho as demandas de uma mulher de 95 anos. Tenho médicos, exames, tenho que fazer a unha”, disse. Como quem se lembra de um detalhe importante, retomou a conversa sobre a vitalidade. “Na vida, temos que encontrar nossa vocação. Se você já encontrou, se agarre a ela.”
Por fim, me abraçou e cochichou no meu ouvido: “Você vai ficar chateada porque não vou te dar uma entrevista?”. Não notou que me deu algo melhor que uma entrevista: sai dali com um conselho para a vida e com a alegria de quem conhece e se encanta ainda mais por um ícone — e, claro com uma foto para as redes sociais.