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‘Geração prateada’ em risco: casos de autolesão crescem 34,8% entre 50+

Em seu alerta sobre os suicídios* nas Américas, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) destacou que a região foi a única a registrar aumento de casos desde os anos 2000 e que os episódios se concentram na população com mais de 50 anos. Um mergulho nos dados sobre internações por autolesão no Brasil atestam a crise na geração prateada diante do aumento de 34,8% nos registros em 2024 em comparação aos números de 2020, ano do início da pandemia de covid-19. O cenário mostra a necessidade de dar atenção e suporte em um período marcado por mudanças no status profissional, familiar e, no caso das mulheres na menopausa, hormonais.

O banco de dados do Ministério da Saúde, o DataSUS, indica uma escalada de internações por lesão autoprovocada que resultou em um aumento de 38,3% dos episódios em 2024 (12.055 casos) em relação a 2020 (8.713).

É importante recordar que o mundo enfrentava a maior emergência sanitária do século com a pandemia do novo coronavírus em 2020 e as pessoas conviviam com mortes, adoecimento, medo da infecção, isolamento social ou exposição ao vírus e perdas financeiras. Nos anos seguintes, ainda reverberavam os impactos na saúde mental com quadros de ansiedade e depressão.

No recorte que considera o período de 2020 a 2024, a faixa de 40 a 49 anos lidera o crescimento de internações por autolesão, totalizando 56,2%, seguida por 30 a 39 anos (45,3%) e 20 a 29 anos (41,6%). A faixa de 50 a 59 anos, vem depois com aumento de 34,8% dos episódios e, por fim, a população de 15 a 19 anos (13,5%).

O ponto de atenção para a geração prateada aparece nos dados dos últimos anos da análise, mais precisamente na comparação de 2024 com 2023, quando a população de 50 a 59 anos tomou a dianteira, totalizando 11,4%.

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“A gente tem falado tanto dos jovens, mas precisamos falar do impacto da saúde mental em todas as idades. Essa geração com mais de 50 anos se doou mais para o trabalho e confundiu sua própria identidade com a do trabalhador, mas, com o envelhecimento, perde espaço no mercado de trabalho e começa a enfrentar outras mudanças”, analisa a psicóloga especialista em alto desempenho Aline Arias Wolff, que também é líder das ações de saúde mental do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

Ela complementa que, nessa fase da vida, as pessoas ainda convivem com as preocupações com os filhos — mesmo maiores de idade — e cuidam dos pais idosos, situação que as coloca dentro da “geração sanduíche”.

De acordo com a psicóloga, por mais que as pessoas tenham informações sobre os danos relacionados a problemas de saúde mental, ainda há estigmas e falta de acesso a psicoterapias e acompanhamento com psiquiatras.

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“Precisamos de políticas de educação em saúde mental para que as pessoas possam se perceber e cuidar de sua saúde mental. A problemática da saúde mental é estrutural, está na base da sociedade, isso inclui a situação dos espaços públicos, políticas de lazer e atividade física, a forma como as pessoas se relacionam com o trabalho e como os líderes agem, porque muitos não são empáticos.”

O cuidado com a saúde mental também é um tabu. “Essa geração aprendeu que isso é frescura, que é preciso ‘aguentar’ e ‘ter força de vontade’, mas é uma situação que traz um prejuízo geral no funcionamento da pessoa e qualidade das relações. É preciso pensar: se uma pessoa tem diabetes, toma insulina. Com o cérebro, também há recursos para tratar.”

Saúde mental das mulheres

O levantamento do DataSUS, avaliado por Aline, mostra que, desde 2019, o número de internações por autolesão entre mulheres está superando o de homens. Esse dado considera todas as faixas etárias. Naquele ano, foram 5.474 entre elas e 5.102 na população masculina. Em 2024, foram 6.145 e 5.910, respectivamente.

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“As mulheres vivem com o machismo estrutural, ganham menos e estão exaustas com a função do cuidado. Na faixa dos 50 anos, vivem a menopausa com mudanças hormonais que geram fogachos, insônia, névoa mental. Não devemos tirar a responsabilidade das políticas públicas, mas cada um pode olhar empaticamente para a mulher que está do lado”, explica a psicóloga.

Ela destaca que todos precisam ficar atentos aos sintomas e às pessoas que estão ao redor, atentando para o fato de que os dados do DataSUS são referentes às internações, logo, autolesões que necessitaram de socorro médico. “Estamos todos vulneráveis e o que fazemos com essa informação? Um movimento possível é o da atenção e do cuidado. Ainda que as pessoas tenham repertórios diferentes, todo mundo pode se ajudar.”

*Caso esteja passando por sofrimento intenso ou tenha algum pensamento sobre tirar sua própria vida, busque ajuda especializada imediatamente. Há também canais de atendimento sigilosos e gratuitos, que podem ser consultados 24 horas por dia, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), disponível no site https://www.cvv.org.br e pelo telefone 188.

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