Conhecido por atuar em diferentes papéis nas novelas da TV Globo, o monólogo O Figurante coloca Mateus Solano, 44, em cena sozinho, pela primeira vez, explorando sua dramaticidade através da história de um figurante que começa a questionar sua própria existência. O espetáculo já foi visto por mais de 50 mil pessoas e teve uma sessão única no Festival de Teatro do Rio de Janeiro nesta quinta-feira, 9. Solano, que recentemente anunciou o fim do relacionamento com Paula Braun, 46, após 17 anos, falou com a coluna GENTE sobre carreira, término do contrato com a Globo e sexualidade.
O Figurante marca sua estreia em espetáculos solos. Mesmo com 20 anos de carreira, é um sentimento diferente? Desde 1996 nessa história de fazer teatro, e aí surgiu a televisão… e a televisão me leva a um lugar que nunca imaginei rapidamente. Hoje consigo levar para o teatro pessoas que às vezes nunca foram, que curtem o meu trabalho de TV. E é minha primeira vez sozinho, esperei um momento certo, né? De alguma forma, para me sentir preparado. Só fazia sentido quando estivesse preparado para tal, o que aconteceu agora, aos 44 anos. Também com o término de uma relação duradoura lá na Globo, que me deixava confortável por um lado, e por outro lado o artístico limitado. Poder criar um texto junto com a minha colega Isabel Teixeira; e a partir desse texto ganhar o Brasil, é uma realização gigantesca.
Você já foi figurante antes de se tornar protagonista? Uso a profissão do figurante para falar da sensação que pode haver, cada um na sua profissão, cada um na sua vida. Em uma vida automatizada e sem sentido. Tanto o gari, quanto o senhor da grande empresa, que termina sua vida, olha para o lado, não tem ninguém, mas ele está cheio de dinheiro. É uma vida sem sentido.
Além da peça, você está no elenco do curta Estrelas Fluorescentes e do longa Ataque ao Metrô. É um momento de investir também no cinema? Estou investindo no teatro. O teatro é o lugar, me lembro de vir falar para a Paula: ‘vou para Portugal, ficar lá um mês e ensaiar’. Porque o Miguel Thiré mora lá, e tive esse mês sabático criando a peça. ‘Vou para lá, vou mesmo, criar uma peça do nada e pagar nossas contas’. Fico orgulhoso de ter conseguido. Isso foi uma coisa que investi. O cinema, a televisão, são coisas que vão aparecendo. Muita gente na rua fala: ‘quando você vai fazer outra novela?’. E falo: ‘bom, escreve uma e me chama’.
Depois de sair da Globo, você veio a público criticar a empresa por não pagar direitos autorais nas reprises. O que é justo nessa questão? O justo é pagar, mas é o mais difícil de acontecer, cada vez mais. Estamos lutando ali pelos 12%, no caso do dinheiro que a Netflix não paga, e não paga imposto e recolhe tudo que ela ganha aqui no Brasil. A gente luta para que 12% dessa grana fique no Brasil, para ser investida em produto nacional. A Globo mais certamente, sem faltar, nos paga. Mas cada vez mais, com a pulverização da nossa imagem, enquanto as pessoas vendem comercial para passar entre o nosso trabalho, a gente não ganha nada com isso. E no final das contas somos a razão para passar de novo a novela. Se vai passar a novela do Félix, por que senão para ver o Félix? E vai assistir ao comercial. Portanto, a gente precisa rever isso, né? Multiplicam-se as formas de explorar o nosso trabalho, mas não se multiplicam as formas de nos remunerar.
Uma das motivações para sair da emissora foi expandir sua capacidade artística. Faltavam papeis interessantes? Tive papéis interessantes, passando pelo vilão Félix e pelo Zé Bonitinho, realmente não tenho o que reclamar nesse sentido. Mas às vezes não tinha tempo, porque estava numa novela que me tomou um ano, um ano e meio de vida. O salário pagava para estar lá, à disposição dos papéis e para o dia a dia que a Globo me oferecesse. Não sei nem se limitador é a palavra certa, mas de certa forma tem um incômodo de contrato.
O vilão Félix, da novela Amor à Vida, é um dos mais emblemáticos da recente TV brasileira. O que ele implicou na sua vida positiva ou negativamente? Não tem nada de negativo. Félix é a grande realização profissional e artística da minha vida. Você fazer um país inteiro parar para discutir preconceitos é a coisa mais forte para um artista. É o que quero no teatro, é o que quero para meus personagens.
O questionamento sobre sua sexualidade te incomoda? Lembro que depois do Félix as pessoas falavam: ‘Ih, agora o personagem não sai dele, está lá dando pinta e coisa e tal’. Falo: ‘Gente, dou pinta muito antes do Félix. Aliás, emprestei a minha pinta para o Félix e não contrário’. Sou eu que empresto as minhas ferramentas e os meus trejeitos para o personagem, e não o contrário. Então, não me incomoda absolutamente.