“52 anos depois, eu estava novamente com a Vera Paiva e o Gilberto Gil fazendo um evento em defesa dos direitos humanos e da democracia.”
Foi assim que o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, descreveu ao Radar a homenagem na semana passada, no Centro do Rio, ao pianista Tenório Jr., morto pela ditadura argentina na década de 1970.
Além de Gil e de uma das filhas de Rubens e Eunice Paiva, participaram também Caetano Veloso e Joyce Moreno, que cantaram com o músico homenageado.
O evento no teatro do BNDES transportou o petista para a memória de um show que Gil fez na USP, em 1973, para ajudar a reconstruir o centro estudantil, durante uma das fases mais repressivas da ditadura.
O baiano cantou 23 músicas, entre elas “Cálice”, que estava censurada, no anfiteatro da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
Naquela ocasião, assim como na homenagem realizada há poucos dias a Tenório Jr., foram Mercadante e “Veroca”, como ele a chama, que tomaram a frente da organização com Gil.
“Foi uma coisa muito bonita para mim ver que Gil continua muito forte, com a mesma disposição e o mesmo compromisso com os direitos humanos”, disse o presidente do BNDES.
Durante o evento, Caetano Veloso contou que discutia com Tenório Jr. a possibilidade de os dois se juntarem em um novo trabalho quando o músico foi “desaparecido”. Era 1976, e o pianista estava em turnê na capital argentina com Vinicius de Moraes e Toquinho.
A memória, aliás, foi a tônica do evento no teatro do banco de desenvolvimento. Estavam presentes na “despedida”, como definiu Mercadante:
- os quatro filhos do pianista e três de seus netos (que não chegaram a conhecê-lo);
- o membro da Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) responsável pela coleta das impressões digitais que possibilitou a identificação do corpo do músico em um cemitério em Buenos Aires;
- Irene Molinari e Sara Mrad, lideranças das Mães da Praça de Maio, da Argentina;
- e Elena Zaffaroni, da Marcha do Silêncio, do Uruguai.