O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, afirmou que seu partido, Poder Judaico, votará contra a primeira fase do acordo de cessar-fogo anunciado nesta quinta-feira, 9, no qual prisioneiros palestinos serão libertados em troca da libertação de todos os 48 reféns israelenses mantidos em Gaza.
Embora tenha ressaltado que seu partido não está saindo da coalizão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Ben Gvir alertou que, se o Hamas não for “desmantelado”, seu grupo político “derrubará o governo”.
Em tom similar, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, também anunciou que seu partido, o Sionismo Religioso, se oporia ao acordo. Se Ben Gvir e Smotrich saírem da coalizão, que não tem maioria parlamentar, o governo cai de 60 para 47 cadeiras no Parlamento, de 120 assentos, o que pode desencadear novas eleições.
O gabinete está se reunindo para votar o acordo e deve aprová-lo, após um atraso de mais de três horas devido às exigências de Ben Gvir em relação à lista de 250 prisioneiros de segurança palestinos que cumprem penas de prisão perpétua e que devem ser libertados, segundo informações do jornal israelense Times of Israel.
“Nossos corações estão cheios de alegria, felicidade e entusiasmo pelo retorno esperado de todos os reféns”, afirmou Ben Gvir em um comunicado. “Mas, além dessa alegria, não devemos — em hipótese alguma — ignorar a questão do preço: a libertação de milhares de terroristas, incluindo 250 assassinos que devem ser libertados das prisões.”
Cessar-fogo
Mais cedo, na tarde desta quinta, o chefe do grupo militante palestino Hamas em Gaza, Khalil Al-Hayya, declarou fim da guerra com Israel e o início de um cessar-fogo permanente, afirmando em discurso televisionado que recebeu garantias dos Estados Unidos, de mediadores árabes e da Turquia de que o conflito foi encerrado de forma permanente.
Durante fala, Al-Hayya também anunciou a abertura da passagem de Rafah — na fronteira do território palestino com o Egito — em ambas as direções, permitindo maior mobilidade de civis e de entrada de ajuda humanitária. Além disso, o líder declarou a libertação de todas as mulheres e crianças palestinas detidas por Israel.
O acordo foi acertado na véspera durante negociações no Egito e inclui a retirada das Forças Armadas israelenses do enclave, a interrupção dos ataques militares e a libertação dos reféns — os vivos, segundo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que avançou a proposta, serão soltos na próxima segunda-feira.
O que prevê o acordo e o que ainda está em aberto
Desencadeada pelo brutal ataque de 7 de outubro de 2023 a Israel, que matou cerca de 1.200 pessoas, muitas delas civis, a campanha militar de retaliação contra Gaza foi devastadora, matando mais de 67 mil pessoas, incluindo muitas crianças, enquanto os bloqueios à entrada de suprimentos no território resultaram em quadros gerais de inanição e fome aguda. A guerra arrasou o território palestino e desencadeou uma enorme crise humanitária.
Sob o texto, a primeira fase suspenderá as hostilidades no enclave, com as tropas israelenses recuando para novas posições. Os reféns mantidos pelo Hamas – dos quais se acredita que cerca de 20 estejam vivos – serão libertados em 72 horas, seguidos pelos restos mortais dos outros 28.
Em troca, entre 1.700 e 2.000 prisioneiros palestinos serão liberados de prisões israelenses — o Hamas entregou uma lista com nomes de 250 pessoas condenadas à prisão perpétua e mais 1,7 mil detidas em Gaza desde outubro de 2023.
E haverá um aumento na entrada de ajuda humanitária no território, extremamente necessária, embora o cronograma desse fluxo não tenha sido especificado. Não se tabe também se todas as organizações estrangeiras estariam liberadas para entrar no território e que tipo de suprimentos seriam permitidos passar nessa retomada. Segundo uma fonte citada pela BBC, quando o cessar-fogo entrar em vigor, Israel permitirá que 400 caminhões de ajuda entrem em Gaza diariamente durante os primeiros cinco dias, um número que aumentaria gradualmente nas etapas posteriores. Mas nenhuma das partes confirmou essa informação.
Também é incerto exatamente quanto território as IDF vão ceder – a mídia israelense fala em manter mais da metade de Gaza por enquanto – e qual poderia ser o cronograma para uma retirada, mesmo que parcial. O Hamas havia exigido uma retirada completa.
Outro ponto importante: o desarmamento do Hamas. Conforme relatou o jornal americano The New York Times, o grupo palestino poderia aceitar um desarmamento parcial de suas forças em Gaza, exigindo em troca algum tipo de garantia vinda de Trump de que Israel não retomará a guerra. E parece improvável que os combatentes aceitem uma anistia ou se exilem, como especifica o plano de 2o pontos de Trump.
Há outras questões a serem resolvidas – a forma exata de governança em Gaza após o fim definitivo da guerra, a potencial reconstrução do território devastado, quem poderia fornecer soldados para uma força internacional de “estabilização”, e muito mais. Tudo isso ainda precisa ser totalmente negociado e, ou mesmo, explicitamente acordado em princípio.