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Restauração da Mata Atlântica pode ser mais lucrativa do que o pasto, mostra estudo

No entorno verde e ondulado do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, na Zona da Mata mineira, as manchas de floresta nativa contrastam com extensas áreas de pastagem.

Essa paisagem, típica de boa parte da Mata Atlântica, pode estar prestes a mudar. Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) concluiu que restaurar o bioma é mais vantajoso economicamente do que manter o gado, tanto para o meio ambiente quanto para os bolsos dos produtores rurais.

A pesquisa, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais do Instituto de Geociências (IGC), comparou cenários de uso da terra até 2050 e revelou que o reflorestamento pode gerar rendimentos até quatro vezes maiores por meio da venda de créditos de carbono.

“O objetivo foi entender onde e como a restauração poderia trazer ganhos ambientais e financeiros sem expulsar o produtor rural”, explica o autor do trabalho, o pesquisador Charles de Oliveira Fonseca.

O valor da floresta

Os resultados são expressivos. Mantido o atual uso do solo, as pastagens renderiam cerca de US$ 280 mil por ano. Já a restauração e a venda de créditos de carbono sobre as áreas reflorestadas poderiam gerar US$ 1 milhão anuais.

Em um segundo cenário, que considera a recuperação das áreas prioritárias para restauração, o lucro seria ainda maior: US$ 3,7 milhões anuais, contra US$ 932 mil com o aluguel das pastagens.

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A pesquisa analisou dados do projeto MapBiomas entre 1985 e 2022 e identificou tendências de desmatamento e regeneração natural. De 1985 a 2005, a cobertura florestal na região caiu de forma acentuada, acompanhando o avanço do pasto.

A partir de 2005, porém, houve um leve aumento da vegetação nativa, resultado do trabalho de organizações ambientais que passaram a orientar agricultores no manejo sustentável e na restauração de áreas degradadas.

Na etapa seguinte, o estudo mapeou 5.801 hectares prioritários para restauração — o equivalente a 3,6% da área analisada, mais do que o dobro do déficit previsto pelo Código Florestal.

O orientador da pesquisa, professor Carlos Fernando Ferreira Lobo, ressalta que o trabalho reforça a necessidade de integrar economia e conservação.

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O que está em jogo

A Mata Atlântica, que já cobriu cerca de 15% do território brasileiro, hoje ocupa apenas cerca de 12% de sua vegetação original, segundo a Fundação SOS Mata Atlântica. Fragmentada e pressionada pela urbanização, pelo agronegócio e pela mineração, é o bioma mais ameaçado do país.

Apesar disso, há sinais de melhora: o desmatamento caiu 59% entre 2022 e 2023, e estados como Bahia, Minas Gerais e São Paulo registraram os maiores ganhos de vegetação nativa nos últimos anos.

A regeneração natural e os projetos de restauração têm desempenhado papel decisivo nesse processo, impulsionados por políticas públicas e pelo mercado voluntário de carbono.

Ainda assim, os desafios são enormes. Apenas 2% da floresta restante está em áreas protegidas integralmente, e os fragmentos de mata muitas vezes estão isolados, dificultando a recomposição da biodiversidade.

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Espécies emblemáticas, como o mico-leão-dourado e a onça-parda, continuam ameaçadas.

O potencial econômico da restauração florestal

Além de seus benefícios ambientais, como proteção de nascentes, regulação do clima e preservação da biodiversidade, a restauração florestal tem potencial para se tornar um motor econômico no Brasil.

Um levantamento do World Resources Institute (WRI Brasil) estima que o país pode restaurar até 21 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030, gerando mais de 2 milhões de empregos verdes e movimentando R$ 70 bilhões por ano.

Segundo a pesquisadora Rachel Biderman, ex-diretora do WRI Brasil, o país reúne “todas as condições para liderar a nova economia da natureza”.

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O economista Ricardo Abramovay, da USP, reforça que a restauração florestal também fortalece a segurança alimentar. O desafio é transformar isso em política de Estado, com crédito e assistência técnica ao pequeno produtor.

Um caminho de futuro

O estudo da UFMG soma-se a uma série de iniciativas que tentam provar, com dados e modelos, que a floresta em pé vale mais do que o pasto.

Ao projetar cenários de uso da terra para as próximas décadas, a pesquisa sinaliza que a restauração da Mata Atlântica pode ser um bom negócio e uma necessidade urgente.

Se o Brasil conseguir transformar esse potencial em política pública e investimento, o que hoje é um estudo regional pode se tornar um modelo para o país inteiro, e uma esperança de renascimento para o bioma mais ameaçado do território nacional.

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