A adolescência é decisiva para a saúde masculina. Prevenção, diagnóstico precoce e hábitos saudáveis com o urologista garantem bem-estar hoje e menos problemas no futuro ao criar uma cultura de autocuidado masculino, com potenciais impactos positivos sobre doenças do adulto, até mesmo as não-urológicas.
É um período de profundas transformações físicas, emocionais e sociais, no entanto, enquanto as meninas costumam procurar atendimento ginecológico nessa fase, os meninos ainda mantêm um grande distanciamento dos consultórios médicos.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 12 e 19 anos, a frequência de consultas médicas das meninas é quase 2,5 vezes maior do que a dos meninos. Quando se compara a ida ao ginecologista com a ida ao urologista, a diferença é ainda mais expressiva: as meninas fazem 18 vezes mais consultas que os meninos.
A menarca, que é a primeira menstruação, é um marco cultural que sinaliza a necessidade da pré-adolescente de se consultar com o ginecologista. Esse “sinal” parece não existir no pré-adolescente masculino, mas eles existem: perguntas sobre sexualidade, aumento do volume dos testículos, ereções mais prolongadas e não relacionadas à vontade de urinar, ejaculações durante a noite (muitas vezes com trocas “silenciosas” do pijama) e surgimento de pelos finos na região pubiana são indicativos diversos de que o menino está iniciando sua exposição ao hormônio masculino chamado de testosterona.
Essa discrepância em relação à baixa frequência do adolescente masculino no consultório urológico preocupa a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que lançou a campanha #VemProUro para incentivar os adolescentes a cuidar da própria saúde, derrubando tabus e reforçando a importância da prevenção.
O objetivo é simples, mas transformador: estimular os meninos a criar o hábito de procurar atendimento médico desde cedo, evitando complicações que poderiam ser prevenidas na infância ou tratadas de forma mais tranquila antes da vida adulta.
Principais doenças e problemas urológicos na adolescência
- Fimose e complicações do prepúcio: a fimose, quando a pele que recobre a glande não retrai completamente, deve ser tratada na infância. Quando negligenciada, pode causar infecções, dor, dificuldade nas relações sexuais, além de estar associada ao risco de câncer de pênis. Dados do Ministério da Saúde obtidos pela SBU mostram que as internações relacionadas à fimose, parafimose e prepúcio redundante aumentaram mais de 80% em dez anos entre adolescentes de 10 a 19 anos no SUS
- Varicocele: é a dilatação anormal das veias que drenam o testículo, principal causa de infertilidade masculina adquirida. Geralmente aparece na adolescência e pode comprometer o desenvolvimento testicular se não diagnosticada precocemente
- Torção testicular: trata-se de uma urgência médica em que o testículo gira sobre si mesmo, interrompendo o fluxo sanguíneo. A dor intensa deve ser valorizada, pois o atendimento rápido (idealmente em até 6 horas) é fundamental para salvar o testículo. Estudos mostram que a baixa compreensão ou reconhecimento da sociedade a respeito desta ocorrência gera atrasos no diagnóstico e tratamento, comprometendo a chance de salvar o testículo acometido
- Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs): com o início da vida sexual, o risco de ISTs como HPV, sífilis, gonorreia e HIV aumenta. O HPV, além de causar verrugas genitais, está relacionado ao câncer de pênis. A vacinação antes do início da vida sexual é fundamental para prevenção
- Tumores testiculares: embora raros, os tumores de testículo têm maior incidência em homens jovens, entre 15 e 35 anos. O diagnóstico precoce é determinante para o sucesso do tratamento. Autoexame mensal é uma medida simples e eficaz. O urologista tem o papel de orientar o adolescente em como realizar este exame
- Ejaculação precoce e disfunções sexuais: questões ligadas à sexualidade começam a surgir nessa fase e podem gerar insegurança. O acompanhamento médico ajuda a esclarecer dúvidas, orientar e reduzir impactos emocionais
- Prevenção da paternidade não-programada: o reconhecimento das mudanças corporais e comportamentais, com o estabelecimento do interesse e da atividade sexual deve estar alinhado à educação sexual, que inclui o manejo de métodos contraceptivos. No Brasil, 14% dos partos realizados são em adolescentes, sendo este índice ligado diretamente à educação e acesso a recursos contraceptivos. Os adolescentes masculinos devem ser parte do processo de mudança deste cenário
A adolescência é um momento estratégico para cuidar da saúde urológica masculina. Os dados alarmantes sobre o aumento das internações por fimose e a baixa procura dos meninos por atendimento médico evidenciam a necessidade de mudar esse cenário. A campanha #VemProUro, da Sociedade Brasileira de Urologia, convida os adolescentes a enxergarem o cuidado com a saúde como parte natural da vida, assim como acontece com as meninas.
Prevenir complicações, oferecer informação correta e criar uma cultura de autocuidado são passos fundamentais para que os adolescentes se tornem adultos mais saudáveis e preparados. Investir nesse acompanhamento é investir não apenas na saúde individual, mas no futuro de toda a sociedade.
*Atila Rondon é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e membro do Departamento de Urologia do Adolescente da Sociedade Brasileira de Urologia, e Rômulo Vasconcelos é professor da Universidade de Pernambuco, mestre e doutor em Ciências da Saúde, urologista da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco e membro do Departamento de Urologia do Adolescente da Sociedade Brasileira de Urologia