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Grave crise na Itália: maestrina da ópera de Veneza é linda e de direita

Nada como a língua de Dante para manifestar sentimentos fortes. “Com estupor e preocupação recebemos a notícia da nomeação de Beatrice Venezi como diretora musical do teatro; um papel que exige e experiência, exercido no passado por figuras de indiscutível valor e capacidade”, diz a carta firmada por 140 espectadores, com assinatura anual, de um dos públicos mais exigentes do mundo, o dos italianos que seguem a ópera como uma missão de vida.

Estão eles contestando a capacidade musical da linda maestrina, que exibe seus dotes extraartísticos em vestidos tomara que caia e bem justos naquela parte que as câmeras mostram ao filmar os maestros de costas para o público? Será sua amizade com a primeira-ministra Giorgia Meloni o verdadeiro motivo das manifestações de revolta com a nova diretora musical do La Fenice, o mitológico teatro de Veneza onde estrearam nada menos que cinco óperas de Verdi (Ernani, Attila, Rigoletto, La Traviata e Simon Boccanegra)?

É possível que haja uma mistura dos dois elementos. Obviamente, ter uma diretora musical de direita foi um dos fatores que pesou na nomeação de Beatrice. Ela realmente não tem o currículo tradicional para um dos postos mais importantes no universo da ópera (teve sua atuação mais importante no Teatro Colon, de Buenos Aires, onde também foi visto um dedinho da direita). Todo o mundo cultural italiano, profundamente estatizado, sempre foi de esquerda, sendo um dos nomes mais conhecidos na esfera musical o de Claudio Abbado, o diretor do La Scala de Milão que queria fundar um novo ramo artístico, o da ópera para os trabalhadores (a China maoísta chegou antes).

Beatrice, de 35 anos, é filha de um empresário que tentou carreira política no Força Nova, um partido neofascista, e ela capricha nas provocações. “Deus, pátria e família são os valores com os quais me identifico”, disse numa entrevista recente, que deixou o mundo artística da esquerda em estado de surto.

ESTADO DE MOBILIZAÇÃO

Para provocar, vozes da direita invocam no caso da maestrina o sexismo, um dos pecados capitais continuamente mencionados pela esquerda.

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Beatrice é “uma artista talentosa e corajosa que se recusa a se curvar à ditadura do pensamento e da linguagem”, espetou Giorgia Meloni, versada nas artes da batalha cultural, embora sua maior admiração artística seja pela obra de J.R.R. Tolkien (O Senhor dos Anéis, como todo mundo sabe, é venerado pela direita).

O sindicato dos músicos declarou-se em estado de mobilização permanente, um dos muitos clichês de esquerda que sobrevivem na Itália.

A situação no La Fenice, que já sobreviveu a dois incêndios e, como a fênix de seu nome, ressurgiu, tem óbvios paralelos com o que Donald Trump está fazendo no Kennedy Center, em Washington, outra trincheira de todas as coisas woke que o presidente quer mudar, sob intensos protestos, inclusive de uma ou outra drag queen horrorizada porque a categoria não será mais o centro dos holofotes na casa de espetáculos.

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TOLOS INTOLERANTES

Para a administração executiva, Trump colocou o multifacetado Richard Grenell, também mencionado como uma voz influente no ouvido presidencial para abrir o diálogo com o Brasil – iniciativa de Trump, não de seu interlocutor. O outro “job” de Grenell é administrar a situação com a Venezuela, obviamente uma tarefa mais fácil do que lidar com artistas de esquerda revoltadinhos.

Grenell, da tribo de gays republicanos em posições chave no governo Trump, já espicaçou os artistas que promovem um boicote ao Kennedy Center, dizendo que os verdadeiros profissionais deveriam ter a noção de se apresentar para diferentes públicos e só os tolos intolerantes querem escolher quem tem o direito de vê-los.

Aplica-se bem também ao caso atual de Beatrice Venizi e o Fenice. E talvez a alguns outros países também.

Nenhuma outra estreia será tão acompanhada quanto a da nova maestrina, sob o escrutínio do mundo da ópera em todo planeta, uma expectativa de acabar com os nervos de qualquer uma. Haja decote para administrar a ansiedade.

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