A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, afirmou nesta terça-feira, 7, que foi denunciada ao Tribunal Penal Internacional (TPI) por “cumplicidade em genocídio” na Faixa de Gaza, em meio à escalada das operações de Israel. Em entrevista à emissora estatal RAI, ela informou que o ministro da Defesa, Guido Crosetto, e o ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, também foram acusados, mas disse que não tinha certeza se Roberto Cingolani, chefe do grupo de defesa Leonardo, fazia parte da queixa.
Meloni não deu mais detalhes sobre a acusação. Em agosto, Angelo Bonelli e Nicola Fratoianni, líderes da Aliança dos Verdes e da Esquerda (AVS), anunciaram que a sigla denunciaria o governo Meloni. Eles destacaram, na ocasião, que “a Itália é membro do Tribunal Penal Internacional, e esse estatuto prevê, no Artigo 25, parágrafo 3, alínea c, que quando confrontada com um crime, neste caso a violência sistemática infligida através do uso massivo de armas e da fome como instrumentos de aniquilação, há cumplicidade”.
Não há confirmação, contudo, de que o processo citado por Meloni tenha sido movido pela ALS. A guerra entre Israel e Hamas completa dois anos nesta terça. Mais de 67 mil palestinos foram mortos — entre eles, 453 por fome, incluindo 150 crianças — e 169.600 ficaram feridos, mostram dados do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Isso significa que pelo menos 10% da população de Gaza, estimada em 2,2 milhões antes do confronto, foi morta ou ferida em 24 meses de conflito.
O governo israelense nega os números e alega que a contagem não difere entre civis e membros do grupo radical, mas organizações humanitárias e um ex-general das Forças de Defesa de Israel, Herzi Halevi, concordam com a estimativa e alertam que pode se tratar de uma subnotificação, já que há palestinos soterrados em escombros de casas e prédios devastados pelos ataques. O Centro de Satélites da ONU afirma que pelo menos 102.067 prédios foram destruídos. No momento, Israel controla 75% do território.
O rastro de escombros é 12 vezes maior do que a Grande Pirâmide de Gizé, no Egito. De cada 10 edifícios que antes existiam em Gaza, oito foram danificados ou arrasados. Encurralada, restou à população de Gaza tentar fugir dos bombardeios. Mais de 1,9 milhão de pessoas, ou 90% do enclave, foram deslocadas, de acordo com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA). Em Israel, em comparação, cerca de 100.000 pessoas tiveram de deixar suas casas.
Acredita-se que 40 mil crianças tenham perdido um ou ambos os pais, segundo o Escritório Central de Estatísticas da Palestina, que definiu a situação como “a maior crise de órfãos da história moderna”. Além disso, dados de março do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontaram que entre 3.000 e 4.000 crianças em Gaza tiveram um ou mais membros amputados. O enclave palestino tornou-se o lugar do mundo com mais menores de idade mutilados. Quase 658.000 crianças em idade escolar e 87.000 estudantes universitários estão sem acesso à educação, já que os centros de ensino foram destruídos ou são usados como abrigo.