O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, designou seu secretário de Estado, Marco Rubio, para dar sequência às negociações com o Brasil sobre o tarifaço e as medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras. A delegação do governo Lula é composta pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A decisão foi anunciada na segunda-feira 6, após reunião entre os mandatários americano e brasileiro por videoconferência. Na conversa, segundo comunicado do Palácio do Planalto, Lula pediu a Trump a retirada da sobretaxa de 50% imposta a produtos nacionais e de sanções contra autoridades brasileiras, como a suspensão de vistos dos Estados Unidos a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Que haja um claro canal de diálogo entre os líderes dos dois países é uma vitória significativa, uma vez que autoridades brasileiras mal conseguiam contato com o governo americano nos últimos meses. Do lado do Planalto, as expectativas são “muito altas”, disse Haddad a jornalistas. A escalação de Rubio como negociador-chefe dos Estados Unidos, porém, coloca um freio no otimismo.
“Caminho mais difícil”
O secretário de Estado é apontado como um integrante da chamada “ala ideológica” do governo Trump. Na chefia da diplomacia americana, ele assumiu papel central na reformulação da política externa dos Estados Unidos, que vem sido marcada por uma retórica moralista e uma política de retaliação a governos considerados “hostis”. Ficou conhecido por sua posição linha-dura a favor de Israel e contra Cuba, mas também contra China, Irã, Venezuela e a Nicarágua.
Rubio também tem sido um dos principais porta-vozes das sanções contra o Brasil. Além do tarifaço, liderou ação de revogação de vistos de autoridades brasileiras em represália ao Programa Mais Médicos, que teve massiva participação de médicos cubanos durante o governo Dilma Rousseff. Ele ecoou Trump ao chamar o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) pela trama golpista de “caça às bruxas”, chamou os ministros do STF de “juízes ativistas” e afirmou que a condenação do ex-presidente era “apenas mais um capítulo de uma crescente campanha de opressão judicial que tentou atingir empresas americanas e até pessoas que operam a partir dos Estados Unidos.”
O secretário é um dos principais interlocutores do governo dos Estados Unidos com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que foi denunciado, em 22 de setembro, pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por coação no curso de processo. Segundo a PGR, ele articulou sanções contra o país e autoridades brasileiras, numa tentativa de influenciar o resultado do julgamento de seu pai por golpe de Estado.
“Nomear Marco Rubio como o homem de ponta de Trump é o caminho mais difícil para o Brasil — ele é um cético de longa data em relação a Lula e pode insistir em demandas relacionadas à Venezuela, China e muito mais”, escreveu o brasilianista Brian Winter, editor da revista Americas Quarterly, no X (ex-Twitter).
Bolsonaristas comemoram
A escolha de Trump foi, por sua vez, comemorada nas redes sociais por dois filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) classificou como um “golaço” a escalação de Rubio como negociador-chefe.
“O secretário Rubio conhece bem a América Latina. Sabe muito bem como funciona os regimes totalitários de esquerda na região. Sabe como o Judiciário foi instrumentalizado como ferramenta de perseguição política. Ele não cairá nesse papo furado do regime, de independência de um judiciário aparelhado”, escreveu ele no X.
Já Flávio Bolsonaro afirmou que esta é uma oportunidade de conversar “com alguém que entende os prejuízos do socialismo”, fazendo referência às origens do secretário de Estado, neto de cubanos. Seus avós, porém, deixaram Cuba rumo aos Estados Unidos antes da ascensão de Fidel Castro, de acordo com o jornal The Washington Post. Rubio negou que tenha “embelezado” a história de sua família e sustentou que o objetivo sempre foi retornar ao país de origem, mas a mudança para o regime comunista provocou a mudança de planos.
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) seguiu na mesma linha, escrevendo nas redes que “Rubio seguirá a carta do Trump: normalidade democrática, acabar com censura e perseguição política, eleições livre e deixem Bolsonaro em paz”.
“A química azedou”, acrescentou ele, em alusão ao que Trump havia dito na Assembleia Geral das Nações Unidas, há duas semanas, quando encontrou Lula pela primeira vez e disse que eles tiveram uma “química excelente”.