O enólogo argentino Alejandro Vigil é um homem ocupado. Além de cuidar dos rótulos da Bodega Catena Zapata, talvez o principal nome do vinho da Argentina, eleita a melhor vinícola do mundo em 2023 pelo World’s Best Vineyards, ele tem seu próprio projeto, El Enemigo, que tem ajudado a colocar a Cabernet Franc entre as grandes uvas produzidas pelo país vizinho, além de dar vida nova à Bonarda, casta que já teve seu período de popularidade, mas acabou dando espaço à Malbec. Ainda administra restaurantes e cervejarias em Mendoza. Agora, além desses projetos, passou a cuidar também de uma nova vinícola, dessa vez na Espanha.
Trata-se de El Reventón, iniciativa que tem ao lado de Adrianna Catena, que também é sua sócia na Bodega El Enemigo. A nova vinícola na região de Gredos chamou a atenção de Vigil há cerca de 12 anos. “Fui convidado por amigos produtores para a Festa da Floração. Lá, fui atraído pelos vinhos feitos com a Garnacha“, conta o enólogo durante sua mais recente passagem pelo Brasil. “Elas tinham uma finesse semelhante aos vinhos feitos com Pinot Noir em zonas mais frias, como a Borgonha, na França”. Ele procurou terrenos em Gredos durante quase 10 anos, até que seus amigos da vinícola Comando G entraram em contato para oferecer o vinhedo El Reventón. Adrianna Catena entrou na sociedade, junto com outro sócio, envolvido no ramo da energia renovável. “E assim, em uma semana, conseguimos colocar o projeto de pé depois de 10 anos de tentativas”, diz.
Segundo Vigil, seu interesse pela Garnacha vem do fato de que ela, ao contrário da Malbec e da Cabernet Franc, que são muito transparente s à paisagem, ou seja, refletem de forma clara o terroir em que foram cultivadas, a variedade espanhola tem características próprias que se manifestam independentemente do clima. “Ela tem muita potência varietal”, afirma. As diferenças no solo, no entanto, fazem com que os vinhos de garnacha tenham diferentes texturas.
Por aqui, os vinhos chegam pela Mistral, a mesma importadora dos vinhos da Catena Zapata e de El Enemigo. São apenas dois rótulos, nº 17, vendido a R$ 563,93, e La Reina, que custa R$ 658, ambos da safra 2022.
O portfólio completo da El Reventón, no entanto, conta com outros quatro rótulos. Artesano, produzido em uma única finca, ou vinhedo, Reventón, feito em uma única parcela, San Gregorio, que vem de outro vinhedo, localizado em meio a um bosque, e Los Estoicos, o mais exclusivo, feito em um vinhedo de apenas 0,7 hectare. A produção total é de apenas 27 mil garrafas – às vezes menos. “Gredos não permite projetos grandes, porque os vinhedos são pequenos, de 0,5 a 1 hectare”, afirma Vigil.

Os dois vinhos disponíveis no Brasil são exemplares elegantes de Garnacha, com boa fruta vermelha fresca, taninos finos e uma acidez alta. “É minha tentativa de criar vinhos, comparáveis aos da Borgonha, em uma região quente”, diz o enólogo. As técnicas de produção também são diferentes na Espanha. Os vinhedos, por exemplo, não têm irrigação e a bodega foi construída em um antigo galpão. “Tivemos que readaptar processos que já foram superados na Argentina”.
A vinícola também nasceu com um projeto de sustentabilidade. Os vinhedos são todos orgânicos, processo facilitado pelo clima da região, e ela é totalmente autossustentável em energia, com placas solares fornecendo a eletricidade necessária.
