Os treze brasileiros que participaram da Flotilha Global Sumud, uma iniciativa de voluntários para furar o bloqueio naval de Israel a Gaza para levar ajuda humanitária aos palestinos, foram deportados nesta terça-feira, 7, para a Jordânia. O grupo, que inclui nomes como a deputada federal Luizianne Lins (PT-Ceará) e o ativista Thiago Ávila, estava preso desde a semana passada em Ktzi’ot, no deserto de Negev.
Segundo comunicado dos organizadores da flotilha, os brasileiros foram transferidos por via terrestre da prisão de Ktzi’ot até a fronteira com a Jordânia, onde recebem assistência de autoridades consulares brasileiras. O veículo de transporte foi fornecido pela embaixada do Brasil em Tel Aviv, segundo comunicado do Itamaraty.
Antes da deportação, foi indicado que os ativistas seriam recebidos por diplomatas da embaixada brasileira em Amã, a capital da Jordânia, onde passariam por avaliação médica. Ainda não há detalhes sobre o retorno deles ao Brasil.
A flotilha, integrada por mais de 40 embarcações e 420 ativistas de diferentes nacionalidades, foi capturada em águas internacionais, segundo comunicado divulgado pelos organizadores. No dia seguinte à interceptação, o governo brasileiro emitiu uma nota condenando as ações israelenses.
“O governo brasileiro condena, nos mais fortes termos, a interceptação ilegal e a detenção arbitrária, por Israel, na última madrugada, em águas internacionais, das embarcações que integram a ‘Flotilha Global Sumud’, assim como a detenção ilegal de ativistas pacíficos”, afirmou o Itamaraty em nota.
Entre os integrantes do grupo estão Ávila, que havia sido detido por Israel numa empreitada anterior da flotilha, a deputada Luizianne, a vereadora Mariana Conti (PSOL), de Campinas, e a presidente do partido no Rio Grande do Sul, Gabrielle Tolotti. Há ainda outros militantes pró-Palestina e sindicalistas, incluindo Magno de Carvalho Costa, dirigente do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP).
Antes desta terça, o único integrante do grupo brasileiro que já havia deixado Israel era Nicolás Calabrese. Ao chegar na noite de segunda-feira 6 no Rio de Janeiro, ele denunciou maus-tratos e disse que as forças israelenses agiram como terroristas.
Em carta publicada no Instagram da Flotilha Global Sumud, Thiago Ávila fez reclamações semelhantes, descrevendo agressões físicas e ameaças por parte dos militares de Israel.
“Desde que fomos interceptados ilegalmente em águas internacionais, sofremos muitas violações. Muitos de nós fomos agredidos fisicamente, ameaçados por cães, privados de sono, alvejados por lasers e espingardas, submetidos a todos os tipos de abuso psicológico, desde colocar pessoas em posições excruciantes por horas, até sermos levados a ônibus adaptados como prisões com a pressão de criar uma câmara de calor e lidar com tantas ameaças o tempo todo”, escreveu o ativista.
Ele continuou: “Como sabem que sou o organizador da missão, não só fizeram tudo isso, como também me levaram a longas horas de interrogatório com oficiais de inteligência e até mesmo com a própria Força de Defesa de Israel (IOF). Depois de me manter firme e defender a Palestina, eles continuaram ameaçando minha filha bebê, cuspiram no meu rosto e me levaram com soldados para um “passeio” no deserto, ameaçando me matar.”
Em uma publicação nas redes sociais no domingo, o Ministério das Relações Exteriores de Israel disse que as alegações sobre os maus-tratos aos ativistas são “mentiras descaradas” e que “todos os direitos legais dos detidos são totalmente respeitados”.
Além dos brasileiros, ativistas de outras nacionalidades, como Argentina, Colômbia, África do Sul e Nova Zelândia, também deveriam ser libertados nesta terça.
A libertação ocorreu no mesmo dia em que a guerra em Gaza completa dois anos. O conflito já deixou dezenas de milhares de mortos e gerou uma crise humanitária sem precedentes. Em nota, os organizadores da flotilha afirmaram que sua missão tinha como objetivo denunciar o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza desde 2007 — e que, segundo eles, desde março deste ano virou um cerco total, impedindo a entrada de alimentos e medicamentos no território.