Vejo com bons olhos que a medicina e a ciência do esporte cada vez mais caminhando juntas. E não é somente na prática do consultório que os benefícios podem ser vistos. Recentemente, estudos revelaram que o exercício físico não é apenas um complemento, mas uma parte central do tratamento para pacientes com doenças reumáticas e musculoesqueléticas (DRM), como artrite e esclerose sistêmica.
Uma pesquisa – apresentada durante o Congresso Europeu de Reumatologia em junho deste ano –, feita com 140 adultos com artrite e espondiloartrite axial (doença que afeta principalmente a coluna), comprovou que adotar um programa de exercícios personalizados melhorou a aptidão física e a qualidade de vida dos pacientes analisados e que os benefícios duraram mais de dois anos, mesmo após a diminuição das sessões supervisionadas.
Já pesquisadores da Universidade Sheffield Hallam, no Reino Unido, mostraram que a atividade física está diretamente ligada à redução do cansaço. As avaliações foram feitas com 170 pacientes com esclerose sistêmica e os programas de exercício resultaram em melhora significativa na fadiga, dor, depressão e qualidade de vida, sugerindo que a atividade pode, inclusive, evitar a piora dos sintomas.
O que a genética tem a ver com isso?
Hoje, com o avanço dos testes genéticos, é possível ir um passo além na personalização da saúde. Se antes o foco era a recomendação de exercícios com base em uma condição física ou um objetivo de desempenho, agora é possível analisar nosso código genético para entender como o corpo responde a diferentes estímulos, tipos de treino, alimentação e, até mesmo, riscos de lesões, revolucionando a maneira como encaramos o esporte e o envelhecimento, sobretudo para pacientes com doenças reumáticas que, como vimos, se beneficiam diretamente da prática esportiva personalizada.
Um exame simples, feito com a saliva, pode revelar características como a capacidade de o corpo realizar exercícios por tempo prolongado e a predisposição genética para ganho de massa muscular e força e para lesões em tendões e ligamentos.
Com o teste genético é possível criar planos de treino sob medida, considerando além da condição clínica, como no caso das doenças reumatológicas, por exemplo, mas tomando como base a individualidade biológica de cada pessoa.
Além do desempenho esportivo, painéis genéticos também podem ajudar na longevidade porque são capazes de fornecer dados valiosos sobre como o DNA influencia o processo de envelhecimento, indicando predisposição a condições como osteoporose ou variações nos níveis de cálcio. Essa compreensão permite a adoção de medidas preventivas para garantir uma velhice saudável.
*Gustavo Guida é médico geneticista dos laboratórios Bronstein e Sérgio Franco, da Dasa