Mesmo os vegetais mais frescos podem não estar livres da poluição moderna. Um novo estudo, publicado na revista científica Environmental Research, revelou que fragmentos minúsculos de plástico são capazes de adentrar nos tecidos das plantas e alcançar as partes que comemos.
Os testes foram feitos com rabanetes cultivados em um sistema hidropônico, ou seja, em água e sem solo, contaminado por nanopartículas de poliestireno, um dos plásticos mais comuns no ambiente. Após cinco dias, cerca de 5% dessas partículas haviam sido absorvidas pelas plantas. Parte delas se concentrou nas raízes comestíveis, e outra fração chegou até os caules e folhas.
Como o plástico entra nas plantas
Os pesquisadores descobriram que os fragmentos conseguem atravessar uma barreira natural das raízes chamada faixa de Caspary, estrutura que deveria impedir a entrada de substâncias tóxicas. Uma vez ultrapassado esse limite, os plásticos circulam pelos tecidos da planta e se acumulam em diferentes partes, inclusive nas comestíveis.
Embora o experimento tenha sido realizado em condições controladas e com uma concentração de plástico superior à encontrada no solo real, os resultados sugerem que o mesmo processo pode ocorrer em hortaliças cultivadas em ambientes contaminados. Isso inclui plantações próximas a lixões, áreas industriais e locais irrigados com água poluída.
Quais são os riscos à saúde e ao meio ambiente
A presença de micro e nanoplásticos em alimentos já é considerada uma preocupação crescente para a saúde humana. Estudos anteriores identificaram essas partículas em frutos do mar, sal, mel e até na placenta humana. O novo achado amplia o problema para o reino vegetal, mostrando que o plástico pode estar presente também em alimentos de origem terrestre.
Ainda não há consenso sobre os efeitos dessas partículas no organismo, mas evidências apontam que elas podem desencadear inflamações e danos celulares quando ingeridas em grandes quantidades. Além do impacto na saúde, a contaminação por plásticos também pode interferir no crescimento das plantas, alterando a absorção de nutrientes e a produtividade agrícola.
Um problema global e invisível
Os pesquisadores afirmam que não há motivo para acreditar que o fenômeno se limite aos rabanetes. Outras espécies, como alface, cenoura e batata, também podem estar sujeitas à absorção de microplásticos, especialmente em solos contaminados.
Com a produção e descarte de plástico crescendo em escala global, os cientistas alertam que o problema pode atingir cadeias alimentares inteiras, desde as plantas até os animais e, por fim, os seres humanos.
