Por décadas, o espaço foi domínio de governos e bilionários. Agora, uma startup quer transformá-lo em destino de um concurso global. A Space Exploration & Research Agency (SERA) lançou uma plataforma digital que permite a qualquer pessoa, com um smartphone e algum tempo livre, disputar uma viagem a bordo da New Shepard, a nave suborbital da Blue Origin, de Jeff Bezos. A nave é a mesma que levou seis mulheres ao espaço no dia 14 de abril, entre elas a cantora americana Katy Perry.
A proposta soa como ficção científica adaptada à era das redes: usuários participam de desafios, acumulam pontos e concorrem, por meio de uma votação pública via blockchain, a uma das seis vagas reservadas pela SERA. Cinco vagas estão reservadas a representantes da Nigéria, Índia, Indonésia, Tailândia e Brasil. Pela primeira vez, um brasileiro poderá sonhar com uma viagem espacial sem precisar ser bilionário nem cientista, apenas com um celular e um pouco de sorte para embarcar na nave de Jeff Bezos.
O aplicativo, gratuito e integrado ao Telegram, funciona como um híbrido de rede social e programa de fidelidade. Cada tarefa – responder a quizzes, interagir em comunidades, divulgar conteúdos – rende SpaceDust, a pontuação usada para subir no ranking global. Os melhores colocados entram numa fase de votação pública hospedada na TON (The Open Network), blockchain associada ao Telegram.
Bezos, que vem tentando posicionar a Blue Origin como rival simbólica da SpaceX, de Elon Musk, ganha aqui um novo tipo de publicidade: a chance de transformar o voo espacial em espetáculo viral.
O turismo espacial ainda é um mercado pequeno, mas de crescimento exponencial. Segundo estimativas da UBS, o setor pode movimentar US$ 3 bilhões anuais até 2030, impulsionado por empresas como a Blue Origin, a Virgin Galactic e a SpaceX.
Os voos suborbitais, como o da New Shepard, são a porta de entrada desse mercado: duram cerca de 11 minutos, alcançam 100 km de altitude e custam, para quem paga, entre US$ 250 mil e US$ 400 mil por passageiro. Ao transformar essa experiência em prêmio de competição, a SERA amplia o alcance simbólico do turismo espacial e, de quebra, converte o sonho em ferramenta de marketing global.
Enquanto a corrida espacial do século 20 refletia a disputa entre superpotências, a do século 21 parece espelhar a batalha por engajamento. Bezos, Musk e Richard Branson disputam não apenas quem vai mais alto, mas quem captura mais imaginação, e atenção, do público.