Em Brasília, o setor automotivo vive uma disputa silenciosa, mas nada discreta, que opõe a Anfavea, representante das montadoras instaladas no Brasil, e a chinesa BYD, líder em veículos elétricos. A tensão atingiu o auge em julho, quando a associação, desconfortável com a expansão acelerada da BYD, se mobilizou para barrar junto ao governo a redução do imposto de importação para carros semi desmontados, medida que permitiria aos chineses uma transição gradual até a nacionalização total. O Ministério da Indústria, sob a batuta do vice-presidente Geraldo Alckmin, costurou uma saída híbrida: antecipou o calendário de retomada das tarifas, atendendo à demanda da velha indústria, mas também abriu cotas de importação com alíquota zero, viabilizando em parte os interesses chineses.
Em meio à turbulência, a Anfavea tenta reposicionar o tabuleiro. Circula em Brasília a informação de que a entidade teria solicitado — e conseguido — um convite para que o seu presidente, Igor Calvet, participe da cerimônia de inauguração da nova fábrica da BYD, marcada para a próxima quinta-feira, 9, em Camaçari (BA). O evento contará com a presença do presidente Lula e deve ser transformado em vitrine da política industrial do governo.
A possível presença de Calvet ao lado de executivos da BYD e do presidente da República é vista por interlocutores como tentativa de uma convivência estratégica, ainda que forçada, com um um player que de promessa, já virou realidade. Se vai haver aceno de paz em terras baianas, saberemos em breve. Por ora, o que se vê é o governo tentando acomodar gregos, troianos, brasileiros e chineses.