O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) foi eleito presidente da Câmara com 444 dos 513 votos possíveis. Considerado um nome de consenso na Casa, ele costurou apoios da direita à esquerda, do PL de Jair Bolsonaro ao PT de Lula. Essa situação deu ao parlamentar força para comandar os colegas e, ao mesmo tempo, resultou num desafio: a necessidade de se equilibrar entre interesses divergentes e muitas vezes inconciliáveis.
Até aqui, Motta, o equilibrista, tem feito o que pode. O caso do projeto da anistia é emblemático. O deputado não barra o debate da proposta, como querem os governistas, mas também não acelera a sua tramitação, como cobram os bolsonaristas, que chegaram a protagonizar um motim no plenário para pressionar o presidente da Câmara.
Quanto ao mérito, Motta demonstra simpatia pela redução das penas impostas aos condenados por tentativa de golpe, mas não embarcou, pelo menos por enquanto, na ofensiva de aliados de Jair Bolsonaro destinada a garantir ao ex-presidente um perdão irrestrito, que o livraria da cadeia. Inelegível e em prisão domiciliar por suposta obstrução de Justiça, o capitão foi condenado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal a 27 anos e três meses de cadeia.
“O Brasil precisa de pacificação e de um futuro construído em bases de diálogo e respeito. O país precisa andar. Temos na Casa visões distintas e divergentes sobre os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023. Cabe ao plenário, soberano, decidir”, escreveu Motta numa rede social, quando pautou os requerimentos de urgência do projeto de anistia. Depois do aceno aos bolsonaristas, ele designou como relator do texto um colega alinhado com o STF e contrário a um perdão amplo, geral e irrestrito, capaz de redimir Bolsonaro.
Necessidade eleitoral
Como presidente da Câmara, Motta, por mais que tente adiar, terá de decidir em algum momento sobre temas espinhosos. Terá de escolher um lado. Um de seus mais importantes conselheiros disse a VEJA, pedindo que seu nome não fosse revelado, que na hora do aperto o deputado tende a favorecer o governo Lula.
Motivo: no reduto eleitoral do deputado, o petista reina absoluto. Motta conta com o apoio de Lula para eleger seu pai, Nabor Wanderley, prefeito do município de Patos, senador pela Paraíba. Diante de projetos de poder, até o equilibrista pode abandonar o figurino.