Na eleição de 2022, Sergio Moro flertou com o fracasso na sua iniciante carreira política. Rompido com parte da direita após se demitir do Ministério da Justiça fazendo acusações ao então presidente Jair Bolsonaro, ele embarcou em uma candidatura frustrada pelo Podemos à Presidência da República e foi obrigado a desistir diante da falta de perspectiva. Decidiu tentar a sorte como senador pelo Paraná, mas se viu atrás nas pesquisas até a véspera da votação, quando o Ipec apontava o senador Alvaro Dias reeleito com boa vantagem. O ex-juiz, no entanto, surpreendeu, levou a vaga com 33,5% dos votos válidos e voltou a Brasília. Agora, lidera as pesquisas de intenção de voto ao governo do Paraná, com cerca de 40%, segundo os últimos levantamentos, e conseguiu há poucos dias a presidência estadual do União Brasil, passo importante para fazer andar a sua candidatura. Mas isso não será fácil. O ex-juiz tem pela frente uma série de obstáculos, alguns bastante expressivos, para tentar consolidar o seu nome na urna e, mais do que isso, para vencer a corrida ao final.
Um dos desafios está dentro de casa, já que Moro acumula desavenças no partido. Parte expressiva das bancadas estadual e federal deve deixar a sigla. O deputado federal Felipe Francischini, que renunciou à presidência da legenda após queda de braço com o ex-juiz, deve ir para o Podemos, de Alvaro Dias, que pode tentar voltar ao Senado. Seis dos oito deputados estaduais devem sair, entre eles Ney Leprevost, que foi candidato a prefeito de Curitiba em 2024 com a deputada Rosangela Moro de vice e terminou a campanha trocando impropérios com o casal. Além disso, o partido com o qual o União Brasil formou federação, o PP, é chefiado no estado pelo deputado e ex-ministro Ricardo Barros (PP), que deseja lançar a ex-governadora Cida Borghetti, sua esposa, ao governo. Como determina a legislação sobre federação, os partidos têm de caminhar juntos nas eleições por ao menos quatro anos.

Se já enfrenta dificuldades para ter o apoio da sua federação, Moro terá ainda mais problemas para unificar a direita em torno de seu nome. O seu principal adversário deverá sair das fileiras do governador Ratinho Jr. (PSD), que é extremamente popular (quase 85% de aprovação) e é cotado como presidenciável em 2026 (leia a reportagem na pág. 28). O candidato governista ainda não está definido, mas o nome mais forte é o do secretário estadual das Cidades, Guto Silva (PSD). Também disputam a indicação de Ratinho Jr. o presidente da Assembleia Legislativa, Alexandre Curi, e o ex-prefeito de Curitiba e secretário estadual de Desenvolvimento Sustentável, Rafael Greca, ambos do PSD. Apesar de as pesquisas mostrarem Guto Silva como um candidato desconhecido (ele tem 6% de intenções de votos), 70% dos paranaenses afirmam que Ratinho merece eleger o sucessor que indicar, segundo Quaest de agosto.
O governador monitora com atenção a movimentação de Moro, que há poucos dias filiou a jornalista Cristina Graeml, outsider que foi ao segundo turno na briga pela prefeitura de Curitiba e deu trabalho ao eleito Eduardo Pimentel (PSD). Ela chegou com status de pré-candidata ao Senado, outra disputa que deve ser acirrada no Paraná. Apesar da atenção com Moro, aliados de Ratinho dizem que o governador deve seguir a estratégia de se apresentar como gestor e continuar entregando obras importantes no estado, algo que será decisivo na eleição.
Nem mesmo a outrora poderosa “República de Curitiba” estará com Moro. Aliado do então juiz na Lava-Jato, o ex-procurador Deltan Dallagnol vai apoiar ao governo o vice-prefeito da capital, Paulo Martins, que trocou o PL pelo Novo, de Dallagnol, que é eleitoralmente considerado muito forte em razão do espólio afetivo e político do lavajatismo no estado.

Por fim, o ex-juiz ainda pode ter um problema inusitado com a Justiça. O senador é acusado de caluniar o decano do STF, Gilmar Mendes, em uma festa junina na qual brincou sobre “comprar um habeas corpus”. O caso está na Primeira Turma, onde, ironia do destino, fica o ministro Cristiano Zanin, que, como advogado de Lula, travou duras batalhas contra o juiz Moro. Na votação do recebimento da denúncia, Zanin disse sim. Se houver condenação, e a depender da pena imposta, Moro pode ser alcançado pela Lei da Ficha Limpa e ficar inelegível.
A disputa no Paraná, sexto maior colégio eleitoral do país, tende a ser definida no embate travado no campo da direita. À esquerda falta um candidato competitivo — Enio Verri (PT), diretor da Itaipu Binacional, deve ser o nome ao governo — e sobra divisão, especialmente entre os grupos do deputado Zeca Dirceu e da ministra Gleisi Hoffmann, ambos de olho no Senado. Para chegar a seu objetivo, Moro terá, assim, de superar rivais acostumados a coletar votos na mesma estrada eleitoral na qual planeja trafegar. Pedras pelo caminho não vão faltar.
Publicado em VEJA de 3 de outubro de 2025, edição nº 2964