Quem não entendeu bem a polêmica entre Mano Brown e Camila Pitanga suscitada pela pauta racial durante a entrevista dela para o podcast Mano a Mano terá, durante o Festival do Rio, uma boa oportunidade de aprender mais sobre o assunto. Criadas, da cineasta Carol Rodrigues, debate o colorismo no ambiente familiar. O longa terá três exibições, nos dias 3, 4 e 5 de outubro e concorre na categoria Première Brasil: Competição Novos Rumos. Estrelado por Mawusi Tulani e Ana Flavia Cavalcanti, começa com a imagem de A Redenção de Cam, do artista espanhol Modesto Brocos, obra símbolo maior do mito da democracia racial brasileira, em chamas.
O efeito reverse motion (de reversão), com o fogo reconstituindo o quadro, indica que o reencontro das primas Sandra (Mawusi Tulani), negra retinta, e Mariana (Ana Flavia Cavalcanti), negra de pele clara não obedecerá às linearidades. Como engenheira, a primeira retorna à casa em que foi criada junto da prima, hoje uma chef de cozinha, à procura de fotos de sua mãe Ivone (Ivy Souza), então empregada na residência da prima Olívia (Sarito Rodrigues), durante a infância delas. Esse é o fio condutor da trama que perpassa dores comungadas por pessoas negras no Brasil, em maior ou menor escala, graças ao colorismo e aos resquícios do sistema escravocrata tão presentes nas relações estabelecidas entre patroas x funcionárias do lar. E, no filme, com o agravante de que elas pertencem ao mesmo núcleo familiar.