O Brasil ganhou nesta quinta-feira, 2, a maior fábrica de mosquitos do mundo, em Campinas, São Paulo. A instalação, pertencente à empresa Oxitec, tem capacidade para produzir até 190 milhões de mosquitos por semana e inclui tanto os mosquitos Wolbachia quanto os da linha “Aedes do Bem”, com funções distintas.
Embora o país já conte com uma fábrica de mosquitos Wolbachia — a Wolbito, inaugurada em julho pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) — a nova instalação é maior e produz também os “Aedes do Bem“. Enquanto a Wolbachia é usada em grandes campanhas de saúde pública coordenadas por governos, o Aedes do Bem permite intervenções locais rápidas e direcionadas. No caso desse último, mosquitos machos geneticamente modificados são liberados para acasalar com fêmeas “selvagens”, mas a prole feminina herda um gene que impede seu desenvolvimento até a fase adulta, reduzindo a população de fêmeas transmissoras de dengue, zika e chikungunya.

A Wolbachia, por sua vez, é uma bactéria presente naturalmente em cerca de 60% dos insetos, que não se transmite para humanos ou animais. Inserida no mosquito Aedes aegypti, impede que o vírus da dengue se replique, de forma que, mesmo que o mosquito pique alguém, não transmite a doença. A técnica funciona por substituição populacional: os mosquitos com Wolbachia se reproduzem com os selvagens, e, gradualmente, a população local passa a ser composta majoritariamente por mosquitos incapazes de transmitir o vírus. A nova fábrica será responsável por abastecer não apenas o território brasileiro, mas também países da América Latina e da região Ásia-Pacífico com a chamada Tecnologia de Wolbachia de Substituição (WRT, na sigla em inglês).
Em Campinas, a produção será feita em pequenas caixinhas com ovos de mosquito e uma dieta específica para o desenvolvimento das larvas até a fase adulta. Quando atingirem esse estágio, os insetos saem da embalagem por pequenos furos no topo, prontos para acasalar e iniciar a substituição ou supressão da população de mosquitos.

Mesmo que a fábrica esteja pronta para operar, a liberação dos mosquitos Wolbachia depende de uma autorização excepcional da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O pedido foi feito em março, mas ainda não há previsão de resposta, segundo a empresa.
A inauguração ocorre em meio a uma situação crítica, onde os casos de dengue atingem níveis recordes na América Latina e na Ásia-Pacífico. No Brasil, são mais de 1 milhão de casos desde o início de 2025. O secretário adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Fabiano Pimenta, representando o Ministério da Saúde, destacou a importância da colaboração entre iniciativas públicas e privadas. “Aqui não se trata de competição, mas de sinergia. Em julho foi inaugurada a Wolbito, que era a maior do mundo. Dois meses depois, já não é. Isso é muito bom para a saúde pública do Brasil”, afirmou.