Os casos de intoxicação provocados por bebidas alcoólicas adulteradas com metanol, um álcool usado na fabricação de solventes, tintas e outros produtos e extremamente perigoso para o corpo humano, tem afetado o setor de bares e restaurantes e provocado uma força-tarefa do governo federal e gestões estaduais para apreender garrafas adulteradas e tratar pacientes que procuram atendimento médico. Mas a situação fica mais tensa com a quantidade de fake news que tem circulado sobre o tema.
Um dos casos envolve uma lista com supostos bares e restaurantes na mira das investigações por vender bebidas falsificadas. Há endereços conhecidos da boemia paulistana. Algumas das casas gravaram vídeos e publicaram notas para desmentir o conteúdo da mensagem.
O Souza, da Esquina do Souza, na Vila Leopoldina, aparece em uma postagem nas redes sociais dizendo que compra suas bebidas de forma legal, tem nota fiscal para mostrar aos consumidores e convida os clientes a ir até o bar. O Holy Burger, que neste ano foi eleito o terceiro melhor hambúrguer do mundo no ranking do BurgerDudes, também precisou se posicionar depois de aparecer na lista. Até a rede Modern Momma Osteria, do chef Salvatore Loi, divulgou um comunicado. “Até o momento, não fomos procurados por nenhum cliente que afirme ter sido intoxicado por bebidas com metanol em nossos estabelecimentos”, diz a nota.
Um áudio divulgado em grupos de WhatsApp é narrado por um homem que traz supostas informações de uma enfermeira do Einstein Hospital Israelita, localizado em São Paulo, sobre o que seria “o primeiro caso com cerveja” de intoxicação por metanol. Ele afirma que um grupo de médicos estaria acompanhando um paciente internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com o “corpo em colapso”. “É como o começo da covid, quando sai uma coisa nova e ninguém sabe como tratar”, diz a voz. Por meio de sua assessoria de imprensa, o hospital informou que o áudio sobre atendimento de paciente com intoxicação por metanol é falso.
Como em outros áudios que circulam com informações falsas, esse carrega no tom dramático ao dar a entender que os profissionais de saúde estariam atônitos e propaga o pânico ao relembrar o período da pandemia de covid-19, que foi uma crise de saúde pública. Também dá um verniz de confiança ao citar que a suposta enfermeira seria amiga do autor da mensagem. Esses são alguns sinais presentes nas fake news, mas que podem ser desmontados, considerando que há antídoto para as intoxicações por metanol e que médicos ao redor do país estão preparados para lidar com episódios graves de saúde, inclusive em situações de emergência sanitária.
Checar em canais oficiais, como sites e redes sociais dos hospitais, agências reguladoras, do Ministério da Saúde e de veículos jornalísticos, é a melhor forma de não cair nas armadilhas da desinformação.
Outra história que se propagou foi de que o aparecimento de uma coloração rosada na água na cidade de Itu, no interior paulista, estaria relacionada com a presença de metanol na rede de água. Em nota, a Companhia Ituana de Saneamento informou que o problema foi causado por um incidente.
“A cor se deve à presença de produto utilizado no processo de tratamento da água”, disse a empresa, que afirmou que uma apuração interna sobre a falha está em andamento. “Por precaução, orientamos que a água com coloração rosa que chegou às caixas seja descartada. Não a utilize para higiene pessoal, hidratação ou alimentação”, recomendou.
Vale lembrar que o metanol é um tipo de álcool incolor e que não tem cheiro ou sabor característicos, o que faz com que se torne mais perigoso, pois não é reconhecido quando ingerido em bebidas adulteradas.
‘Desativação do sistema de controle de bebidas’
Outra informação que circulava nas redes sociais afirmava que a desativação, em 2016, de um sistema de controle de bebidas, principalmente cervejas e refrigerantes, estaria ligado à falsificação.
A Receita Federal alerta que é falsa a correlação entre a criminosa adição de metanol em bebidas destiladas disponibilizadas a consumidores com o desligamento do sistema de monitoramento denominado Sicobe (Sistema de Controle de Produção de Bebidas).
“O controle de destilados, como vodka, gin, whisky, é usualmente feito pela utilização de selos, impressos pela Casa da Moeda e aplicados nas tampas das garrafas, e que não têm relação, nem se confundem com o Sicobe”, diz o comunicado.