A adaptação climática está no centro do debate ambiental e, segundo Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, não se trata de uma questão ideológica, mas sim de uma prioridade concreta para todos os setores da sociedade. “Para o clima, se você é esquerda ou direita, se você gosta ou não gosta, acredita ou não em mudança climática, isso não é relevante, porque você precisa de uma ação pública coordenada e robusta”, afirmou a especialista na entrevista ao podcast VEJA+Verde.
Ela destaca que o Brasil terá papel estratégico na COP30, a Conferência do Clima da ONU que ocorre em Belém (PA), em novembro, ao colocar a expressão “adaptação” como prioridade. “A adaptação às mudanças climáticas é o novo normal”, observa Unterstell. Os dados mais recentes mostram que os impactos climáticos aceleraram nos últimos cinco anos, exigindo respostas imediatas do setor público e privado.
O Instituto Talanoa, fundado por Unterstell, atua na produção de inteligência política e recomendações para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. Entre os principais desafios, estão o ajuste de políticas públicas e o alinhamento de incentivos capazes de mobilizar capitais em escala nacional. “Está faltando um sinal político, porque enquanto os governantes não estiverem falando, ‘olha, isso é uma prioridade’, o setor privado não necessariamente vai se mover”, acredita a especialista.
Exemplos práticos da adaptação já podem ser vistos no Brasil e no exterior. Unterstell cita o setor de energia como crítico, especialmente diante das mudanças no regime de chuvas que afetam hidrelétricas como Belo Monte. A não adaptação resultou em menor eficiência e aumento de emissões por fontes poluentes, impondo custos para toda a sociedade.
Além da energia, setores como agricultura e turismo também exigem investimentos em resiliência. Segundo a entrevistada, existem dezoito planos setoriais de adaptação em desenvolvimento no governo federal, mas eles ainda precisam se transformar em projetos concretos e gerar resultados práticos para as cidades e regiões mais vulneráveis.
Unterstell relembra o papel da governança integrada e defende a criação de mecanismo nacional que alinhe estados, municípios, sociedade civil e setor privado. O objetivo é fortalecer políticas públicas e incentivar investimentos sustentáveis, criando vantagens competitivas para governos e empresas que investirem em soluções climáticas inovadoras.
Por fim, ela enfatiza que a urgência da adaptação está diretamente ligada à sobrevivência econômica dos setores mais afetados e à proteção de vidas. A proposta de Unterstell será apresentada na COP30, onde o Brasil poderá demonstrar ao mundo como políticas públicas robustas, planejamento integrado e investimentos coordenados são essenciais para enfrentar o novo cenário climático, independentemente de disputas políticas ou ideológicas.
Com apresentação de Diogo Schelp, editor de VEJA NEGÓCIOS, VEJA+Verde traz entrevistas com empresários, personalidades, gestores públicos e especialistas sobre sustentabilidade e meio ambiente e faz parte do projeto VEJA na COP30.